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sexta-feira, outubro 31, 2003


Os Marginais


O português é frequentemente acusado de apenas se manifestar sobre o que vai mal, o que não é assim tão infundado. Efectivamente, raros são os casos onde se podem ler palavras de elogio, excepto, na blogosfera, imprensa cor-de-rosa, e artigos sobre os artistas nacionais. Pretendo com este post elogiar uma empresa: a Priberam. A empresa em questão desenvolveu e comercializa um produto de seu nome FliP caracterizado por um pacote de várias ferramentas que, anexadas ao programa Office, auxiliam nas questões “técnicas” da língua portuguesa. A Priberam acaba de lançar o FliP:mac, para todos os utilizadores de computadores da Apple, e é por este facto que lhes dirijo os meus sinceros parabéns. A plataforma Macintosh é marginalizada em Portugal e raras são as casas de software que se dignam a disponibilizar um versão mac dos seus produtos, sempre utilizando a abjecta (palavra que aprendi com FJV, um apaixonado utilizador da “maçã”) apologia de constituir um nicho de mercado demasiado pequeno. Os meus sinceros agradecimentos à Priberam por este excelente produto destinado aos marginais.






Operários da construção


Tentei esconder-me atrás de um automóvel mas o proprietário arrancou com a sua viatura; corri a esconder-me na esquina mais próxima mas escutei a voz da Charlotte que se aproximava; escondi-me então atrás de um poste e foi aí que errei; A Ana viu-me.
Eu, que tentava fugir ao assunto, achei-me assim na obrigação de explanar, empregando uma afirmação ainda mais polémica que a dos pedreiros – o labor do escritor é semelhante ao do operário da construção civil.

O operário que lá de cima lança harmoniosos versos às musas que passam, encantando-as com embriagantes vocábulos na língua de Camões; O operário que do topo da sua Torre de Babel de arcos vermelhos participa em altercações filosóficas sobre qual a cor mais genuína; O operário imóvel no pico de uma construção que contempla o vazio, tentando compreender o infinito e a sua relação com o tempo; O operário oriundo das terras gélidas do Leste estudando a melhor forma de aplicar o cimento, investigando as relações bio-moleculares entre formas. Em cada operário existe um escritor. Em cada escritor, um operário.

Todos somos potenciais escritores, todos somos potenciais operários. A uns apenas falta um punhado de tijolos. A outros apenas falta uma mão-cheia de palavras.





quinta-feira, outubro 30, 2003


Caiu o pano


O prémio de melhor template já é dele, e do seu blog(?), site(?), diário,(?), confessionário(?). O conteúdo promete, a ideia encaixa, o tom acerta. Senhoras e senhores, ele aí está. João Pereira Coutinho, que é o mesmo que dizer, sete para um lado, sete para o outro.





quarta-feira, outubro 29, 2003


As Lágrimas


A pedido de um grande amigo (sim Tó, és tu) regresso às crónicas de café, assim chamadas por, surpresa das surpresas, serem escritas no café. Estas crónicas são sempre despoletadas por acontecimentos reais que me fazem pousar o livro, revista, ou jornal, e tomar na mão a caneta Printech Tarki Gel e o Bloco de Notas Firmo A6/60 Fls. Espiral - P (o preço das Parker e dos Moleskines é abusivo).
A anterior crónica, de seu título "A Crisálida", entretanto perdida no baú dos arquivos, surgira quando um jovem pediu um Sumol e uma bola de Berlim e, procurava descobrir a idade, ou o momento, a partir dos quais tomamos responsabilidade pelos nossos actos. A crónica presente ambiciona encontrar o ponto de viragem nas nossas vidas em que perdemos a superioridade perante os mais velhos.

Joana, 7 anos, e João, 3 anos (nomes fictícios embora conheça os reais), irmãos, brincam com uma daquelas bolas pequeninas que enclausuram o diabo no seu interior, tal a loucura e a fúria com que saltam descontrolada e caoticamente após o primeiro impulso. João quer atirar a bola primeiro, mas Joana não pretende ceder e para provar que é ela que mantém o controlo da situação, segura-a firmemente no ar.
João, num impulso de inocência infantil, salta numa tentativa sem êxito de capturar o desejado objecto, ao que o seu ainda jovem cérebro que necessita de colocar primeiro tudo à prova, comunica-lhe que será impossível alcançar a bola usando esta táctica. Então, recorrendo a uma das formas mais certeiras de comunicação, João solta um irritante e estridente grito de menino, alcançando uma nota e um tom que quase nos rebenta os tímpanos, e que provoca latidos em todos os cães presentes num raio de cinquenta quilómetros. Joana, querendo provar que por ser mais velha é ela quem manda, utiliza um mimetismo correspondente às suas referências de poder aplicando uma palmada no rabo de João. João responde pela mesma moeda mas, traído pela ineficácia dos seus jovens membros, observa a a irmã vitoriosa e firme com todo o seu corpo dizendo - não doeu.
Joana aproveita por alguns segundos o seu domínio sobre um ser, à primeira vista, inferior, até que este, qual pequeno Napoleão colocando todas as suas tropas disponíveis no terreno de batalha, conta-ataca com um pranto digno das mais poderosas intempéries. Joana, ouvindo a aproximação dos adultos que acorrem aos chamamento aflito da cria, tenta colocar um penso na ferida e entrega-lhe a bola. O choro não termina e Joana é reprimida pelos pais. Momentos depois, Joana encontra-se amuada a um canto e João, ainda ranhoso, segura a bola na mão e sorri.

Pergunto-me - qual a idade em que ser mais novo significa ser inferior? Aos 10, 20, 40, ou 70? Talvez não seja uma idade. Talvez seja um dia. No dia em que deixamos de chorar.






Para o Nuno


Eu, que ainda me encontro em cima da rocha, de prancha debaixo do braço, tentando vencer o medo, olho com prazer o horizonte onde ele se encontra, recortado pelo grande astro laranja, lançando-se num belo salto e sobrevoando a espuma dos tempos. Aceno-lhe. Ele regressa mais uma vez, coloca-me a mão no ombro, e aponta-me confiante o oceano.






O pedido de ajuda


Quando alguém liga o motor e as luzes da sua viatura, para desse modo iniciar a marcha, mas se detém ao observar que, outro alguém, espera esse lugar para estacionar, o que procura o primeiro alguém com tal gesto? Que justificação existe para a sua atitude lançada ao segundo alguém? Esclareçam-me, pois mesmo com 27 anos de vida, não consigo encontrar uma resposta ou uma razão, mesmo que ilógica.





terça-feira, outubro 28, 2003


Entreguem-se de uma vez por todas


Porque circulam nas ruas com ar de amuados?
Porque não cedem passagem ao semelhante?
Porque colocam na face a máscara da superioridade?
Porque competem a disputa mais desnecessária de todas?

Porquê, se sabem o quanto vos apetece comunicar, desabafar, ou, simplesmente ser ouvido?






Mais um adiamento no caso mais famoso


‹‹Give 'em the old razzle dazzle
Razzle dazzle 'em
Give 'em act with lots of flash in it
And the reaction will be passionate
Give 'em the old hocus pocus
Bread and feather 'em
How can they see with sequins in their eyes?

What if your hinges all are rusting?
What if, in fact, you're just disgusting ?

Razzle dazzle 'em
And they'll never catch wise!››





segunda-feira, outubro 27, 2003


A semana que passou, ou, de (a) a (f)


(a) Hollywood Ending; Kill Bill: Vol. 1; Intolerable Cruelty; Dogville.

(b) Um gozo; Uma decepção; Um aviso; Um retrato.

(c) A ordem de (a) e (b) não corresponde.

(d) A afirmação de (c) provém da opinião pessoal do autor deste blog.

(e) A alínea (d) prova que para outras pessoas (c) até poderá ser falso.

(f) Todas as semanas fossem assim, como (a).





domingo, outubro 26, 2003




Parabéns para a "nossa" menina.





sábado, outubro 25, 2003


A depressão, ou, quando as luzes se acendem


Quem fruiu da sorte de assistir ao musical "Phantom of the Opera", em Londres ou em Nova Iorque, atravessou uma experiência emocional memorável que, provavelmente, não mais esquecerá e, porventura, repetirá. Das várias análises e discussões sobre a peça, entre amigos e conhecidos, o adjectivo perfeita marcou sempre presença nas mesmas; todos saímos do teatro com essa sensação de nos terem tocado de todas as formas, com mestria e perfeição. No entanto, imagine-se o momento em que as luzes se acendem e situemo-nos do lado de lá da cortina: Actrizes, actores, dançarinos, e coro, ambos despindo a pele das personagens que encarnaram. Christine liberta-se do seu turbulento amor entre Raoul e Phantom, para abraçar o real e belo amor ao seu marido e aos seus filhos que a esperam no calor do lar. Phantom retira a máscara e limpa as cicatrizes, quem sabe, regressando a uma máscara mais sua, mais íntima, mas real, protegendo-o de cicatrizes, invisíveis, mas verdadeiras. A sociedade portuguesa encarna diariamente o Fantasma da Ópera.

Na semana passada, conversava com um amigo, numa esplanada do El Corte Inglés, enquanto esperávamos uma sessão de cinema. O meu amigo, olhando à nossa volta, observando os presentes, comentou: - Se isto são as pessoas normais, estou grato por ser um anormal.
Para provar que estas palavras foram acertadas e perspicazes, proponho um exercício: Procurem uma daquelas esplanadas centrais de um Shopping e por uns minutos observem aquelas e aqueles que vos circundam. Atentem nos tiques, poses, gestos, roupas, conversas, olhares. Examinem com atenção, e não se deixem enganar. São personagens à vossa volta, algumas podem até aparentar interesse, mas uma vez que interpretadas por péssimas actrizes e péssimos actores, não são credíveis, não são reais, não convencem, mostram descaradamente a máscara. É quando vemos a máscara, de luzes acesas, que todo o brilho se perde.

As luzes estiveram apagadas nos últimos cinco a dez anos, no palco da Expo, no cenário do pleno emprego, na partitura do crédito, numa obra recheada de clichés onde, camuflados sobre ofuscantes efeitos especiais, os protagonistas quase convenciam os restantes com os seus desempenhos. Agora, a sociedade fala de um país deprimido, desiludido, perdido. Culpam a crise, o desemprego, a pedofilia, o governo, e até a pacata Bragança. No meio de tanta poeira atirada aos olhos, ficámos cegos e já não distinguimos a verdadeira causa do problema: Caiu o pano; Acenderam-se as luzes; A orquestra cessou a sua música. Agora, o português encontra-se do lado de lá da cortina, e se ela do lado do espectador é um pano vermelho, do lado da personagem adquire a forma de um grande espelho. O português, imóvel, ainda de pé, olha-se no espelho e vê finalmente a máscara no rosto. Mas desta vez, as luzes estão acesas.






Kill Bill: Vol. 1


Consumir, de preferência, sem moderação.
Em caso de dúvida, consulte o seu cinema mais próximo.



Tudo o que é foleiro, deixa de o ser quando feito com,
muito, mas mesmo muito, absurdamente muito, estilo.



Agradecimentos a Tarantino, Yohei Taneda, David Wasco, e Yuen Wo-Ping.





sexta-feira, outubro 24, 2003


Para não deixar, por um dia, o blog em branco


Hoje, quem sabe, talvez consagre uma visita ao Sr. Tarantino.
Logo se verá.





quinta-feira, outubro 23, 2003


Ainda o Chicago


My Fair Lady é, por mim, considerado o melhor musical cinematográfico de todos os tempos. Aproveito para lançar o repto sobre o meu género favorito: Qual, na vossa opinião, foi o melhor musical a figurar numa tela de cinema?






Cellophane


Should have been my name
Mister cellophane
'cause you can look right through me
Walk right by me
And never know I'im there

in Chicago







Confissão sobre rodas


Não desejo carrinhas Audi, moradias luxosas, fama, ser milionário, viver rodeado de modelos, e jantar diariamente nos melhores restaurantes.

Mas confesso que esta seria a minha garagem de sonho:






quarta-feira, outubro 22, 2003


Intimidades


A Rita partilhou em tempos connosco o seu sentimento de blogo-intimidade. Aqui, mesmo quem não se conhece, partilha a estranha sensação de estar intimamente próximo daqueles que lê. Melhor ainda é conhecer os escritos e as pessoas. O Borges, lembrou duas pessoas que também escrevem e que deixam saudades, o Luís Hipólito e o Paulo Galvão. Isto mostra-me uma faceta que estava por descobrir na blogosfera. Alguém escreve e recorda-nos as pessoas. Recorda-me que marquei um café há muito tempo com o Hipólito e depois não disse mais nada (desculpa Hipolite, não leves a mal, já sabes que eu não bato bem). O Paulo, esse, anda por cá, e só tenho pena que ainda não tenham reparado nisso. Obrigado Borges.





terça-feira, outubro 21, 2003


Lágrimas fictícias


Chorar ao ver um filme é , para mim, habitual. O meu olho clínico, e a minha análise cinematográfica dilui-se quando enfrento uma história bem contada, deixo-me ir, entro de corpo e alma dentro da ficção. Ainda hoje choro em filmes que vi dezenas de vezes. Mas chorar num filme é fácil. Os actores transformam as personagens em carne e osso, a música envolve-nos num tocante segredo, a câmara e a luz guiam-nos para o interior mais íntimo da cena. Seja em "Dancer in the Dark", ou em "Mrs. Doubtfire", as lágrimas correm-nos pela face, mas encontramo-nos protegidos por saber que estamos no interior de uma sala de cinema, e uma vez no exterior, o mundo real regressa. Num livro o sentimento multiplica-se por mil. Porque é difícil chorar num livro, e quando tal acontece, não paramos mais de chorar, pois não há escape, não há exterior. Fechamos o livro e continuamos no seu interior. Mesmo assim, gosto mais de chorar com um livro.






Tele-Escola


Depois de uma extensa fase de testes abriu o MIT's OpenCourseWare, onde está disponível online material referente a 500 cursos do famoso instituto. É razão para afirmar que só não sabe quem não quer.

Um bom ponto de partida: Shakespeare, Film and Media.






Manhã, o que é?


É essa estranha ligação que para os outros significa separação, novidade; É a continuação da espera, um livro que se fecha, um mundo familiar e ao mesmo tempo estranho enquadrado na moldura de uma janela; São os passos perdidos sem destino, caminhando para um sono sentido mas ausente; É pensar em ti.






Actores? Isso é secundário.


Procuro sem sucesso um buraco para enfiar o transporte, pois a concentração de viaturas estacionadas em frente ao Blockbuster assemelha-se a um estádio de futebol em dia de jogo. Estaciono a dezenas de metros e lá vou correndo disparado, tentando em vão evitar a monção que sobre mim se abate, rogando pragas pelos hábitos de fumar e não transportar guarda-chuva, desejando ser a Paula Neves para assim minorar a molha. Entro na loja dos filmes qual pinto, encharcado até aos ossos (como gosto desta expressão!), provocando olhares reprovadores nos presentes, todos eles tão bem arranjados, com os seus telemóveis e carteiras na mão, com as suas chaves dos carros tão bem aspirados, com os seus cabelos tão certos, com as suas poses tão estudadas. As escolhas cinematográficas encontram-se às centenas, arrumadas nas suas prateleiras, e, qual Neo, misturo-me na multidão de Smiths tentando distinguir o real do virtual. Ao meu lado, ele: - Leva este que tem este actor!; mais à frente, eles: - Esta dupla é fantástica!; atrás de mim, ela: - Por favor! Outro do Jet Li não!

É curioso que 80% dos consumidores de cinema escolha os filmes pelos seus actores e não pelos respectivos argumentista e realizador. Mas, uma vez que a representação representa a preferência dos portugueses, é de actores e não de autores que aqui venho falar.
Mais atrás neste texto, contei-vos a minha entrada inglória no fast-food dos filmes. Pisei este palco encarnando a personagem do desleixado molhado, no mesmo palco onde pouco depois chegou o rapaz do desportivo com a sua loura espampanante. Ambos fomos observados e analisados, mas a memória dos presentes registará apenas o segundo, pois este espelha o "sonho de vida" do comum dos mortais que o transforma na personagem principal relegando-me para um mero papel secundário. Eu, no entanto, regozijo-me com tal papel, uma vez que é nos secundários que residem algumas das pérolas da sétima arte. A minha semana transacta, repleta de cinema comercial (descanso de neurónios, lembram-se?) confirmou esta minha opinião. "Atracção Acidental": Natascha McElhone; "Amigos do Alheio": Bruce McGill; "Terapia de Choque": Luis Guzmán e John Turturro.
Ao contrário dos Smiths, eu escolho os filmes por autores. Lá me decidi por Rob Marshall e Bob Fosse, e enfrentei novamente o dilúvio protegendo o "Chicago" debaixo do casaco. Chegado a casa, coloco as pipocas automáticas no microondas (estejam descansados que nas salas de cinema abstenho-me), coloco o disco prateado no leitor e é com alguma surpresa que chegado o fim, volto a reiniciar o filme que me agradou igualmente em ambos os visionamentos, o de receber e o de analisar. Quem não viu a dita obra, veja, embora eu seja suspeito uma vez que o musical é o meu género favorito. Mais uma vez, escolher pelo autor provou ser acertado pois os bons actores só o são para quem saiba o que fazer com eles. Acabei assim a semana em beleza e, também mais uma vez, lá estava um secundário acima de muitos cabeças de cartaz: John C. Reilly, que me trouxe aleatória e alegremente à memória, Don Cheadle, William Macy, Philip Seymour Hoffman, Melora Walters, Barry Pepper, Greg Kinnear, Tim Blake Nelson, Dominique Pinon, Gary Sinise, David Morse, Hubert Koundé, Steve Buscemi, deixando-me assim perder nessa fantastic voyage pelo universo dos que aparecem depois.
Mas isso, já são outras histórias.





segunda-feira, outubro 20, 2003


Ideias feitas


Ultimamente ando não só a ler o "Story" do McKee como a retirar conselhos do mesmo. Um amigo, ao aperceber-se das minhas leituras, troçou das mesmas e aconselhou-me a ver o "Adaptation" do Kaufman pois, garante o meu amigo, arrumarei de seguida o livro, para sempre, na prateleira. Apenas sorri, não querendo, ou sem paciência para, argumentar os nossos pontos de vista que, sendo opostos, nos levariam a uma discussão que terminaria num beco sem saída. Das duas uma: Ou o meu amigo não leu o livro, ou então não viu o filme, pois Kaufman acaba por "quase" seguir à risca os princípios enunciados por McKee na referida obra, fazendo questão de o frisar no dilema da dualidade Charlie/Donald, ambos faces da mesma moeda, defendendo o ponto de vista de ambos (alcançam o sucesso), transformando o "meio-termo" como a melhor solução para os nossos "medos" criativos. Pena é, que muitos considerem "Story" um livro de regras, o que o próprio autor recusa ser a premissa da obra, e não tomem a sua leitura e análise como um excelente ponto de partida. Mesmo para quem não se dedica à área do argumento, o livro constitui um prazer e até mesmo uma desmistificação de várias "ideias feitas". Como exemplo, transcrevo aqui um excerto, que o cinema português deveria observar com atenção:

‹‹The young are taught that "Hollywood" and art are antithetical. The novice, therefore, wanting to be recognized as an artist, falls into the trap of writing a screenplay not for what it is, but for what it´s not. He avoids closure, active characters, chronology, and causality to avoid the taint of commercialism. As a result, pretentiousness poisons his work.
A story is the embodiment of our ideas and passions in Edmund Husserl´s phrase, "an objective correlative" for the feelings and insights we wish to instill in the audience. When you work with one eye on your script and the other on "Hollywood", making eccentric choises to avoid the taint of commercialism, you produce the literary equivalent of a temper tantrum. Like a child living in the shadow of a powerfull father, you break "Hollywood´s rules" because it makes you feel free. But angry contradiction of the patriarch is not creativity; it´s delinquency calling for attention. Difference for the sake of difference is as empty an achievement as slavishly following the commercial imperative. Write only what you believe.››
Robert McKee in Story





domingo, outubro 19, 2003


O Regresso


Terminado o período de descanso cerebral, no qual os meus moribundos dois neurónios se livraram das dissertações umbiguistas e foram presenteados com uma semana plena de filmes comerciais, volto à blogosfera e ao acariciar do "eu". Esta frase não deixa de conter a sua ponta de ironia uma vez que o primeiro post da reentré é dedicado aos outros. Meninas e meninos, O Circo Origini, têm a honra de vos apresentar o regresso dos destemidos, ferozes, impressionantes, divertidos, e incríveis ... agradecimentos.

Á vossa direita, desafiando as leis da gravidade, Blogame mucho e encapuzado extrovertido tentam um triplo salto mortal ... silêncio ... Palmas ! A multidão que, pensativa, olhava, com descrédito este perigoso número, encontra-se agora ao rubro num misto de entusiasmo e admiração, e até os pássaros alegremente cantaram tão prodigioso feito.
There´s no business like show business.





sábado, outubro 18, 2003


Uma pausa no meio da pausa


Venho por este meio interromper, momentaneamente, o meu retiro cerebral. A ocasião assim o obriga uma vez que, hoje e pela primeira vez, a minha esposa recomendou-me um blog. Fui espreitar e descobri um local de escrita solta, amável, descontraída e, divertida. Quando me deparo com estas raridades blogosféricas que nos prendem à primeira visita, nasce um pássaro. A partir de hoje, uma Loja de 300 passa a significar uma andorinha.
Mais uma vez, até segunda.





quinta-feira, outubro 16, 2003


A Pausa


A todas e todos que aqui passam à espera de um novo post, a todas e todos que me têm feito referências, às e aos que me escreveram, a quem felizmente gosta de me ler. Volto na segunda ao blog. Necessito de descansar um pouco de mim próprio.





terça-feira, outubro 14, 2003


A César o que é de César


A Sombra anunciou o lançamento dos seus arquivos manuais que, na minha modesta opinião, é um exemplo a seguir, e aproveitou o post do anúncio para lembrar o "desaparecimento de textos", reflexão que eu teria iniciado. No entanto, quem iniciou o debate foi o Ricardo Sampaio com o seu post "Under Blog", motivando o meu posterior seguimento ao assunto. Para ambos, um abraço.






Palavra segredada ao ouvido que provoca sorriso inocente


Água.






Posts com mel


Gosto das palavras que a lenia vai suspirando, no blog, ao seu Ricardo. Chamem-lhe pieguice, mas estas coisas deixam-me, como assim, enternecido. Clamem ó vozes da discórdia, às quais o amor não foi generoso, gritem que é kitsch, evoquem à vontade, mas é isto que me agrada ler. Muito mais do que discussões sobre o artigo 456789 do código penal e suas implicações. Debata-se o amor, e quem sabe, ache-se até a sua origem.






Regresso à lagoa azul


Após o último post, onde este blog aumentou o nível de crispação, voltamos às florzinhas e coelhos num belo prado, num céu azul rasgado pelo arco-íris, e um oceano ao longe onde salta uma baleia com o sol por detrás. Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo sucedido, mas às vezes salta-nos a tampa. É que ele há limites para tudo ...





segunda-feira, outubro 13, 2003


Vira o disco e toca o mesmo


Ana Gomes está cada vez mais parecida com um certo blogue que já aqui existiu.
Esse também só fazia perguntas.






O Escândalo


ESPANHÓIS PATENTEARAM A UNHA COMPRIDA DO DEDO MINDINHO.
A notícia avançada ontem pelo diário de Moreira de Cónegos está a causar grande agitação entre as hostes políticas e a indignação entre a população em geral uma vez que os últimos desenvolvimentos apontam para um envolvimento do governo português no caso. O negócio secreto envolveu uma "troca de favores" entre os dois governos ibéricos. Durão Barroso prometeu a Aznar o seu silêncio e em troca o governante espanhol prometeu adicionar às campanhas publicitárias "Espanha Marca" a frase "E Portugal até dá uns toques" se bem que em letras pequeninas e da mesma cor que o fundo do anúncio. Ora, o Observatório Económico Ganhas Tu ou Ganho Eu, em declarações à imprensa, assegurou que é Portugal quem perde neste obscuro negócio uma vez que a patente vale muitos milhões de euros apresentando um vasto leque de aplicações na indústria cosmética e outras.
A invenção remonta a 1876, na zona do Minho, onde um pastor fez a promessa religiosa de não cortar a referida unha se a cabra Alzira, conhecida pela sua infertilidade, produzisse uma ninhada. Ora, após o nascimento de 25 cabritos de uma só vez, o pastor, emocionado, cumpriu a promessa. Pediu então à mulher que confeccionasse uma farta e mui respeitosa refeição em honra do senhor, e ao prender-se-lhe um bocado de cenoura nos molares teve então a ideia de usar o novo "acrescento". O caso passou de boca em boca até se tornar um costume frequente em Portugal.
Perdida agora a patente, os partidos da oposição preparam-se para apresentar um livro em branco com as restantes invenções lusas por patentear e durante a próxima semana Manuela Ferreira Leite desloca-se ao parlamento para uma sessão de esclarecimentos. De notar ainda que a Associação Regional de Registos Etimológicos (ARRE) tem vindo a alertar repetidamente para a falta de registo das expressões "É assim" e "Prontos". A ARRE tem agendada uma campanha de sensibilização a decorrer em Outubro em vários distritos do país.






A Ideia


Através das minhas deambulações pela blogosfera, a altas horas da madrugada, apercebo-me que não sou o único a sofrer de insónias, esse estado suspenso entre a euforia e o tédio que Christopher Nolan retratou de forma fidedigna. Nessas horas livres de sono, em que se espera pacientemente o canto dos pássaros, são os livros e os filmes que ocupam estes períodos de ninguém conservando a mente distraída e as divagações seguramente direccionadas, porém, em outros momentos, quando o televisor se encontra desligado e os livros fechados, impera um perigoso silêncio. De onde provêm o perigo? Das conversas mantidas entre nós próprios, esses monólogos esquizofrénicos que nos conduzem pelas estradas do pensamento, onde demasiadas bifurcações, repetidas vezes nos conduzem a becos sem saída. Ao embrenhar por uma dessas variantes surgiu-me uma ideia que resolvi intitular: Pontos de Conversa.
Imagine-se então, estabelecimentos abertos 24 horas onde nos deslocamos para conversar. Exemplo: 04:00h - Crise aguda de insónia com quebras de auto-estima; falta de apetite literário; cinemas de serviço apenas disponíveis do outro lado do Atlântico; Cônjuge, namorada(o), companheira(o), ou amigas(os), ausentes ou em sono profundo. Deslocamo-nos então até ao Ponto de Conversa mais próximo onde um simpático e prestável empregado nos indica uma mesa disponível para conversa, em privado ou em grupo. Criado um franchising em torno deste conceito, as várias lojas poder-se-ão até adaptar às zonas em que se encontram inseridas, permitindo ao utente uma vasta diversidade de opções tais como Chiado (política e moda), Bairro-Alto (blogues e instalações artísticas de carácter duvidoso), Expo (sistemas de home-cinema e Fernando Rocha), Cova da Moura (tuning, Benfica, e técnicas de abordagem), entre tantos outros locais e outros tantos temas. Isto sim seria serviço público. A dois. Ou a três. Quem sabe, a quatro.





domingo, outubro 12, 2003


O Segredo


O Francisco lembrou a minha preocupação do desaparecimento de textos da blogosfera. Eu entendo que essa seja a ideia, pois também aí reside a beleza deste local, onde os escritos repentinos ou abruptos se mostram mais sinceros. Menos trabalhados, mais verdadeiros. Como dizia um dia, menos mastigados, mais cuspidos. A blogosfera é um café de proporções inimagináveis, onde tomamos responsabilidade imediata pelas palavras imediatamente proferidas. Mais uma vez afirmo, esta é a sua beleza. Nunca seria um sonho, seria um pesadelo, mas daqueles que não deixam traumas, que não sentimos necessidade de partilhar com ninguém, não é um medo mas sim um receio. Neste local de tantas pessoas, tantos nomes, até tantas máscaras, onde tantos necessitam de gritar, chamar, pedir, evocar, justificar, a mim, bastam-me aqueles que apenas querem segredar: noite, o que é?





sábado, outubro 11, 2003


A Técnica


Várias foram já as vezes que me perguntaram se já escrevia antes de iniciar o blog. A resposta, sempre negativa, origina alguma surpresa nos interrogantes. Não é difícil desmistificar este assunto uma vez que, desde muito cedo, habituei-me a escrever "mentalmente", embora nunca colocando os pensamentos em papel. Depois é simples, bastando um corrector ortográfico, um dicionário de sinónimos, um prontuário, uma gramática, paciência e persistência, observação, uma boa dose de bom-senso, e a escrita aos poucos vai crescendo e ganhando a sua forma. No meu blog e por toda essa blogosfera, que diariamente se constrói pela mão dos seus autores, acabo sempre por lembrar-me das palavras de Kubrick:

"... if you can talk brilliantly enough about a subject, you can create the consoling illusion it has been mastered."






Fazes-me um blog?


Cortei o cabelo, limpei o pó ao frasco de gel, decorei as músicas dos Run-DMC, treinei as deixas de apresentação, coloquei pilhas novas no casaco prateado, e lá fui eu para a festa do Desejo Casar. Estacionei o carro a poucos metros da porta, eram sensivelmente 8 da noite, e fiquei até às 11:30 a ver quem entrava. Como as pessoas me pareciam minimamente inofensivas, resolvi arriscar. Imaginei várias entradas, preparei-as na minha cabeça, até que escolhi a entrada "lagartixa", que consiste em percorrer o percurso da porta ao bar o mais rapidamente possível, encostado à parede. Tudo ia bem, e ninguém reparava em mim, mas infelizmente choquei com uma moça (teria blogue?) e derramei o seu copo no chão. Ela ofendida, insultou-me de tal maneira, que resolvi sentar-me ao balcão e dali não sair mais. Tentei várias tácticas: Observador mas distante, triste armado em vítima solitária, matador gajo-bom com uma sobrancelha ligeiramente flectida. Nada. Ninguém se dirigiu a mim a noite toda. Após provar todos os shots, e numa altura em que já não distinguia se a bar-woman estava à esquerda ou à direita do balcão, levei a mão ao bolso e retirei de lá a série de posts impressos "noite, ké que ié?" que trazia para o Francisco me assinar. Deprimido, por não ver o Francisco (mais tarde soube que passou a noite na casa de banho a segurar a testa de Pacheco que se fartou de vomitar depois de beber 15 blogs-de-esquerda), e ao ouvir comentar que o Costa Santos preparava-se para passar música, achei que era a minha deixa e resolvi sair. Ainda choquei com a polícia à entrada que prontamente me interrogou sobre o paradeiro do MuitoMentiroso. Preenchido e assinado o auto, peguei no carro e fiz-me à estrada. Ao entrar em casa o meu reflexo no espelho chamou-me fraco. Apaguei o casaco, vesti o pijama, deitei-me, e chorei.

Ficções à parte:
Confesso que não ia à festa de um blog, mas sim à festa do Nuno, uma vez que já tinha saudades do seu sorriso tipo garoto-maroto-que-foi-à-caixa-das-bolachas. Não ia portanto ver bloggers, mas sim pessoas. E isso foi a festa. Um encontro de pessoas divertidas e descontraídas que por momentos se esqueceram que tinham um blogue. Conheci a maior parte do staff dos casadoiros, do Luís (essa alma gémea) até ao Bernardo (que agradável surpresa) e, entre shots e músicas que não ouvia desde o tempo em que fazia olhinhos às miúdas, ainda se soltaram umas boas gargalhadas. Resta-me dar os parabéns a todos e perguntar: Quando é a próxima?





sexta-feira, outubro 10, 2003


Party People


Tenham calma. Primeiro vou dormir.





quinta-feira, outubro 09, 2003


A Origem do Amor








Os agradecimentos


Foi uma semana ornitológica em pleno. A conversa sobre Kundera com a Louise foi agradável, o Joel mostrou-me o seu novo rosto, e o Telmo avisou que o upgrade ao Blog-City manterá os seus ocupantes incomunicáveis até 13 de Outubro. Foi também uma semana em que vários blogs colocaram poleiros que aumentam o número de escalas possíveis durante as minhas viagens aéreas, os quais resolvi visitar. Como o dia estava colorido, atravessei o quarto do pulha e saí pela janela em direcção ao interior do nosso país. O Sol estava forte e procurei então a Sombra no interior de um cinema onde assisti a uma retrospectiva intitulada Links completos, que me deixou de alma despida, ainda trauteando por esses campos fora as músicas das várias obras.

No entanto, a semana encerrou em si, dois momentos de especial carinho. É do conhecimento geral que os Beija-flores e as Andorinhas são a "cereja no topo do bolo" em matéria de ligações da Origem, e quando o tempo escasseia, não permitindo a leitura de todos os favoritos, aquelas duas categorias são diariamente imperdíveis. Esta semana um beija-flor e uma andorinha cederam um pequeno espaço nos seus poleiros e estou seguro ao afirmar que ainda sinto as penas arrepiadas.

Não posso contudo esquecer um blog em especial. Hoje, a Origem comemora o seu terceiro mês de existência e, embora o technorati já não o mencione, a madrugadora Ana foi a primeira pessoa a mencionar este local. Para ela, um abraço muito especial.






Cinemascope e RDA


Antes de mais queria agradecer à cadeia de cinemas UCI a iniciativa de não possuírem bilhetes marcados, pois desta forma, os espectadores que insistem em chegar sistematicamente atrasados, adquirem uma nova perspectiva de ver cinema. A três metros do grande ecrã aprendem a ler legendas como quem assiste a uma partida de ténis. Obrigado UCI pela lição dada.

Fui ver Good bye, Lenin que na minha opinião é um filme "a ver" mas, infelizmente, não é uma obra imperdível. Infelizmente porque a história merecia muito mais e possuía asas para voar bem alto, o que não acontece seja devido a um argumento (Bernd Lichtenberg) composto de fragmentos, alguns muito bons, mas com uma deficiente estrutura que falha em interligá-los; a uma insegurança na realização que se mostra ainda imatura e que salvo raras excepções (saliente-se a belíssima sequência em que a mãe observa carinhosamente as "preocupações" do filho) não consegue levar-nos para o interior do ecrã, recorrendo a clichés para assegurar esse fim mas que provocam o efeito contrário. Entendi que Wolfgang Becker tentou uma narrativa aproximada ao estilo de Amélie, mas falha redondamente, pois para que tal aconteça é necessário dominar com mestria as questões de ritmo, o que não acontece. No entanto é um filme que se observa calmamente, e aplaude-se a vontade do realizador e do argumentista, em contar-nos as "mudanças" através de uma história de amor e dedicação.

Para terminar, agradecia aos projeccionistas das salas em questão um maior cuidado no alinhamento da projecção uma vez que eu e microfones não nos entendemos muito bem.





quarta-feira, outubro 08, 2003


A Vergonha


Hoje tive a infelicidade de assistir a um dos momentos televisivos mais absurdos de que tenho memória. A libertação de Paulo Pedroso deu azo àquela que foi decerto a melhor representação visual para a definição "Circo Mediático". Observar jornalistas e fotógrafos, junto ao EPL, a correrem desvairados para o carro que transportava o socialista, quando este se deteve num sinal vermelho, foi deprimente e aviltante. Quando penso que já batemos no fundo, aparece sempre alguém empunhando uma pá.






A Analogia


Em tempos de crise, as livrarias são locais a evitar. Se já é angustiante o processo de escolher um só livro, observá-los conhecendo a impossibilidade de os adquirir é profundamente doloroso. Mas como normalmente, mesmo em casos extremos, possuímos sempre o dinheiro necessário para tomar um café, nós, os afeiçoados à negra bebida, deparamo-nos com um grave problema no cinema King, pois para alcançar o balcão atravessamos uma sala onde os autores e as suas palavras gritam por nós. Hoje porém, animado por pagamentos que se aproximam, entrei na pequena sala sem receios, de peito levantado. Deixei-me levar por títulos tais como ‹‹O Jogo das Nuvens››, ‹‹Uma Abelha na Chuva››, e ‹‹Ficções de Bichos››, que o empregado cuidadosamente envolveu num saco de papel. Apaixonei-me por aquela forma de guardar os livros e não consegui deixar de construir uma analogia com os sacos onde transportamos o pão. Já de cigarro aceso (venham de lá esses anti-tabagistas) e agitando lentamente a infusão dos bagos moídos, abri o "embrulho", e lá voltou a relação: Acabava de retirar livros "quentinhos" acabados de chegar. Assim como o pão, não se devia negar um livro a ninguém, e nos tempos em que uma pessoa não possui capacidades financeiras deveria existir algo como "As folhas dos pobres", onde por uma quantia irrisória (obtida num sinal de trânsito ou numa avenida de escritórios) poderíamos adquirir o nosso exemplar para "encher" a alma. Porque a alma é como a barriga, nunca deve estar vazia. Faltava uma hora para o filme começar. Larguei as dissertações e empunhei as Ficções. Mais tarde, o tema voltou, e resta-me agora uma dúvida. Qual a analogia para a manteiga?






A Gravidade


Por vezes é necessária uma sessão das 21:40H de Amarcord no King, a uma terça-feira, praticamente lotada, para descermos à terra e lembrarmo-nos que não somos únicos.





terça-feira, outubro 07, 2003


Bravo Bravíssimo


Acabo de ler um "ensaio" fascinante sobre 2001: A Space Odyssey. O meu fascínio é resultante da autora do texto, Margaret Stackhouse, que o redigiu com a idade de 15 anos, provavelmente das melhores reflexões até hoje lidas sobre o assunto. Até Kubrick se rendeu.






O débil piu


Alguém chegou aqui procurando no Google "Grito do Benfica".
Outros fossem os tempos, meu amigo, outros fossem os tempos.






O Bom, O Mau, e o Vilão


Iniciemos pelo Mau:

Domingo - 23:00H - Ao prever mais uma noite de insónia, resolvi pegar nas asas e voar até às Twin Towers (ainda assustei alguns que estavam à janela), para observar a abordagem feita a Dorian Gray, Captain Nemo, e outras ilustres personagens da literatura, em "Liga de Cavalheiros Extraordinários". Conto-vos então o filme: Em determinada sequência um Nazi "despeja" o conteúdo da sua automática no peito de Dorian Gray e, como quem "paga as favas" é o coitado do quadro, as feridas saram instantaneamente e o Nazi despede-se deste Admirável Mundo Novo. Ao observar a façanha, o Homem Invisível, pergunta ao "imortal" - What are you? - , ao que Gray ironicamente responde - I´m ... complicated. E pronto, o filme está todo contado, sendo a restante parte da película um enterro, a tudo o que de bom se poderia extrair do potencial de tais personagens, promovido pela "Liga de Abjectos Cangalheiros" também conhecidos como Argumentista e Realizador.

Agora o Bom:

Segunda - 02:30H - Irritado por ter estupidamente imaginado que o filme (Liga dos Cavalheiros) até possuiria alguma força a descobrir, coloco o dvd alugado e por ver de "Adaptation", faço as pazes com o meu gosto, e deleito-me ao descobrir que , no meio de tanta "preocupação", Kaufman acabou por realmente escrever um filme sobre flores.

Para terminar, o Vilão:

Terça - 03:58H - Momento em que termino este post. Blogger's Block. Não faço a mínima ideia do que inventar para o Vilão. Que se lixe! O que importa é que o título venda!






A Revelação


A Melinha agradeceu as palavras que lhe enviei por e-mail, talvez numa tentativa em me demover de revelar todos os factos que possuo sobre a sua relação com Saeed al-Sahaf. Como se mostrou tão simpática resolvi destruir as provas documentais em meu poder que, mesmo eliminando a parte da pimenta, provavam que a Amélia podia a qualquer altura lançar, em 47 minutos, um ataque amoroso de larga escala. A doutora, no seu post, pedia-me que não olvidasse o envio da foto pessoal, entretanto já entregue nos seus laboratórios para futura análise. Foi então que, após demorada reflexão (sensivelmente 20 segundos), resolvi "dar a cara" e publicar aqui a minha fotografia para que toda a blogosfera possa conhecer-me não só interior mas também exteriormente.
O "instante" foi captado por ocasião da festa de Natal lá do serviço. Sou o 2º à esquerda, tapado pelo egocentrista do Ramos da contabilidade que não perde uma oportunidade de permanecer à frente de todos, sempre que uma objectiva está presente. Não é a minha imagem mais reveladora, eu sei, mas é o melhor que, por agora, se pode realizar.






segunda-feira, outubro 06, 2003


Shot Origem do Amor


Ainda sobre a festa do Desejo Casar, foi lançado um pedido aos bloggers para se manifestarem sobre a composição dos shots disponíveis na festa. Ora, a bebida aqui da Origem necessita de representar a célebre frase "não sei, queria algo ... bom!". Por outro lado, e uma vez que este blog defende as virtudes do amor e do casamento, a bebida deverá permitir, após tomadas algumas doses, que se pergunte sem vergonha essa também tão célebre questão "Fazes-me um blog?". No entanto, o néctar em questão não poderá nunca levar ao descontrolo e crispação, não podendo por isso ser algo demasiado forte. Aqui vai a poção:

2/4 Vodka
1/4 Batida de Coco
1/4 Groselha

Resta-me apenas desejar bons fígados a todos.






O evento do ano


Depois de Woodstock, da passagem do milénio, e do lançamento do novo livro de Paula Bobone, eis chegada a festa do Desejo Casar. A Associação dos Amigos do Matrimónio e Afins (AAMA) organizou um giga-evento a decorrer na próxima quinta-feira, 9 de Outubro, onde, para além da presença de ilustres representantes da blogosfera, está já confirmada a actuação da banda Phone Stars de JPP onde poderemos ouvir ao vivo o seu mais recente single (em homenagem à caixa do site-meter) "Have you seen her, tell me have you seen her?".
Mais informações no site dos casadoiros.





domingo, outubro 05, 2003


Uma coisa leva à outra (4)


A possibilidade de um blog se "auto-apagar" é um perigo não só para os seus autores mas para toda a blogosfera. Imagine-se por momentos que, de um dia para o outro, e sem razão, o Abrupto ou o Aviz eram misteriosamente apagados juntamente com tudo o que por lá se escreveu. Imagine-se também que JPP e FJV não possuem cópias de segurança do que por lá foi dito. Escolhi estes dois locais porque, sejamos sinceros, encontra-se nestes blogs material de trabalho extremamente valioso sobre vários assuntos, e se porventura a pesquisa de textos no interior de um blog se tornar um processo mais fácil e organizado, estes blogs (e muitos outros) podem constituir no futuro imprescindíveis locais de estudo on-line. O Blogger, se desaparecer, se "desligar o botão" dos seus servidores, está em pleno direito de o executar. O que é o Blogger? Milhares de discos rígidos onde, gratuitamente, se encontram alojados terabytes de informação escrita e não só. Esses "espaços físicos" custam dinheiro e, até que ponto pode o Blogger suportar esse custo? Na minha modesta opinião, este e outros serviços de alojamento deveriam ser pagos (a preços minimamente acessíveis) e desta forma serem responsáveis (e responsabilizáveis) pelos arquivos dos seus utilizadores, possuindo sistemas de backup diário que permitam recuperar todo o conteúdo de um blog.
Até lá, o Blogger está no seu devido direito de partir levando consigo reflexões, estudos, e pensamentos. Até lá, peço a todos que arquivem o que escrevem pois na maioria dos casos substitui muito livro de análise, ficção, ou poesia, disponível nas livrarias. Não interessa à blogosfera empreender uma luta para que a criação e manutenção de um blog seja gratuita, pois a sua leitura já assim o é. E não há dinheiro que pague o que por aqui temos a possibilidade de ler.






Uma coisa leva à outra (3)


O Parapeito foi atacado, e LFB assegura que o desaparecimento do blog não se deveu à vontade da autora. O Ricardo já alertara para a volatilidade da blogosfera que a qualquer altura, qual gás, poderá desaparecer da atmosfera da escrita on-line sem deixar rasto. Esta discussão surge numa altura em que os links para os posts, de Julho e Setembro, da Origem desapareceram, embora tais entradas ainda (e sublinho, ainda) se encontrem nos arquivos do Blogger.
Contactei o Blogger e, como não obtive qualquer resposta, tratei de arquivar todos os posts em Word não suceda, por erro ou ataque, o desaparecimento do meu blog. Pela última vez, e em jeito de conclusão, uma coisa leva à outra.






Uma coisa leva à outra (2)


A Origem possui nos seus registos de classificação três entradas directas, resultantes da primeira leitura de um blog, ambas andorinhas. Foi o caso de Os meus neurónios são cor-de-rosa e de Thelma&Louise, ambas casos de blogs soltos que apaixonam à primeira visita. São locais sinceros que, embora não participem na discussão diária sobre a actualidade (assim como eu), escrevem os seus pensamentos sem se preocuparem com razões ideológicas ou de status, sendo essa liberdade de escrita algo a aplaudir. Outro blog com entrada directa foi o Parapeito, descoberto através da lista de links do Desejo Casar (há que o dizer), antes do caso do Gastão (também há que o dizer). É aqui, que uma coisa leva à outra.






Uma coisa leva à outra (1)


A Sombra (responsável pelo endividamento, à banca, da Origem que necessitou de contratar 34 especialistas em ornitologia para que, em tempo recorde, se resolvesse a polémica dos cucos) ligou este blog ao seu inaugurando assim a ligação Sombra-Origem uma semana após o troço Origem-Sombra abrir ao público. Enquanto prosseguem as reuniões, entre os dois blogs, no sentido de decidir a inclusão de portagens e do conceito leitor pagador, a Sombra, em comunicado de imprensa, afirmou que a ligação do troço em questão foi decidida "na hora", o que perfaz caso raro. Não transcrevo aqui estas afirmações para me vangloriar mas sim porque, como diz o título, uma coisa leva à outra.





sábado, outubro 04, 2003


Analogias mal paridas


Andava eu a passear pela Sombra, quando os dignatários representantes desse fenómeno da luz alertaram para um facto que este vosso ornitólogo das horas livres desconhecia. O cuco é conhecido como uma ave parasitária. Nos links da direita muitos blogs favoritos estão classificados desta forma. Passo a explicar

A analogia dos cucos com os blogs em questão é baseada nos relógios de cuco pois estes, avisando as horas, encontram-se em "cima do acontecimento", e é verdade que por aqueles lados discute-se principalmente a actualidade. Isto foi explicado num post antigo mas, como a Sombra bem notou, a entrada em questão acabará por se perder nos arquivos e uma primeira análise poderá entender a minha analogia com parasitas. Quando me dediquei à categorização, dos locais em questão, ponderei até denominar esses lugares como Falcões, tal é o número de bicadas que trocam, e bem, destinadas à sociedade que vai mal e até entre eles próprios. O problema seria a analogia com os Falcões da guerra e já esperava receber na caixa de mail queixas dos blogs por estar a chamá-los "Americanóides". Pesquisei então novamente a "Grande Enciclopédia Multimedia da Passarada" e encontrei nova categoria que não levantasse problemáticas questões analógicas (isto dito num meio digital é, no mínimo, curioso). A partir de hoje, os cucos passam a ser Picanços Reais.

A ave em questão é o picanço mais abundante em toda a Europa, ocupando particularmente terrenos secos (ai Portugal, Portugal), possuindo territórios bem delimitados. Constrói o seu ninho preferencialmente em silvados, de difícil acesso, e aprecia como poleiro os fios de telefone ou o alto dos pinheiros onde observa uma maior superfície de terreno. Possui um espírito muito "guerreiro" que o leva a enfrentar até o homem quando este se aproxima do ninho e das suas crias.

Espero que a nova categoria seja do agrado de todos.





sexta-feira, outubro 03, 2003


A Crisálida


7:15h. Os primeiros clientes ensonados principiam o seu dia rotineiro com a sua bica e pastel de nata. Sentado na mesa do fundo, depois de uma noite em branco, perco-me no meio dos caracteres e das histórias que me contam, erguendo os olhos momentaneamente para fotografar estas presenças que entram, o meu inconsciente analisa esses instantes e comunica-me qual a sua importância. Entra um adolescente. O sono carregado nas suas pálpebras, o fato de treino no corpo (hoje deve ser dia de educação física, penso eu), a pesada mochila nas costas, que imagino apinhada de livros; de cadernos com autocolantes dos ídolos desportivos espalhados nas capas; de um qualquer jogo de cartas coberto de figuras mitológicas ou mecanóides. O livro erguido à altura da face e por detrás os meus olhos, voyeuristas, analisando (analisando não), assistindo ao doce espectáculo de um tempo que já passou. Peter Stillman chama por mim, mas Peter não é real, é ficção, o jovem, esse sim real, ou talvez não, sim, não, ya ya ya. Obrigado.
O jovem, chamemos-lhe João (parece-me bem) solicita ao Sr. Rui um Sumol de Laranja e uma Bola de Berlim recheada de doce creme. Aqui está, à minha frente, a grande mudança da juventude! João, com o seu dinheiro, é livre de escolher a sua primeira refeição diária. Os pais desaprovariam decerto a escolha, evocando as virtudes de um quarto Vigor e de um pão de deus com queijo e fiambre. Mas João fez a sua escolha e, é aqui, que irá entrar aos poucos na vida adulta, em que cada causa contém um imprevisível efeito, em que assumimos a responsabilidade dos nossos actos. Várias vezes tentei trazer à memória o ponto onde a viragem se dá. É aqui, na escolha de um Sumol e de uma bola de Berlim. O João segue para a escola, eu regresso ao Sr. Triste.





quinta-feira, outubro 02, 2003


As folhas


Outubro é conhecido pela morte das folhas que ao lançarem-se no seu suicídio suspirante, suavemente se despedem sobre as pedras da calçada. Mas na grande árvore da blogosfera existem folhas que nascem. Folhas brancas esperando palavras e pensamentos. Os carros atravessavam mecanicamente a avenida, no seu movimento repetido de parar e avançar, ignorando que ali ao lado, uma nova folha recebia os seus primeiros raios de luz, enquanto noutro ponto da cidade, alguém acordava e da sua janela olhava o mar. Dessa janela tocada por alguns ramos, onde uma nova vida se agitava ao vento, misturando os sons da folhagem com os distantes sons das vagas agitadas. O Outono deu as boas-vindas a ambas.






O Abrigo


A chuva tombava dos céus como se tivessem virado a malga do Inverno de uma só vez. As aves (aqui chamadas passarada), apanhadas de surpresa, tentavam encontrar resguardo para proteger as asas fustigadas pelas grossas gotas do dilúvio. Ao longe avistaram um letreiro de neon onde brilhavam as palavras "Origem do Amor", e de cuja chaminé se libertava um delicioso e acolhedor vapor carregado de mil e um cheiros de conforto. Vesti apressadamente um impermeável (desses amarelos que se usam no cinema) e corri a abrir as portas dos vários aviários. Beija-flores, Andorinhas, Cucos, Cotovias, Papagaios e outros pássaros, escolheram o seu poleiro, procurando calor junto das ilustres aves que já ali se encontravam, ali aninhadas à direita.






Para grandes males, grandes remédios


Acabei o livro e logo chegaram as comichões, os suores frios e os espasmos. Como não alcançava decidir-me, adoptei medidas de emergência drásticas e infalíveis. Coloquei o dvd da Origem do Amor (Hedwig, para os amigos) no leitor, pela quinta vez, e suspirei de alívio, confortado por esta dose de metadona cinematográfica. Ao terminar o excelente filme (mas porque raio foi John Cameron Mitchell ignorado nos óscares?!), já mais calmo, formulei a minha escolha sem grandes dificuldades. Anda cá Auster, anda cá ao papá.






Private Joke


Para as minhas meninas e meninos do workshop, boa noite a todos :)






Porque tem de haver um fim?


O Imortalidade está a dez páginas de se esfumar e desaparecer para o lado da memória. Faltam-me três livros para completar a bibliografia de Kundera, mas não se encontram presentes na minha estante, e o vento sopra lá dentro, lá dentro na carteira. Coloco o livro de lado, sei que daqui a uns minutos (para Marcelo, milésimos de segundo) estarei a ressacar da leitura. Enfio pelo caminho (Kundera lembrava que deixámos de escrever sobre os caminhos) que me leva ao escritório. À minha frente Dostoiévski, Vargas Llosa, Hesse, Beckett, Joyce, Auster, e outros, ambos mostrando várias faces ainda virgens, de sentimentos por explorar, acenam-me, gritando - Eu, eu, eu !
E agora que fazer? Somente alguns minutos para decidir, antes que chegue o vazio resultante duma capa fechada, duma lombada que se acaricia, de um marcador que espera nova casa. Quem me ajuda? Rápido!





quarta-feira, outubro 01, 2003


Remar contra a maré


Um dos maiores problemas de defendermos os nossos ideais, é abrir a carteira e ouvir o vento soprar lá dentro.






Fashion


Este Portugal tem a sua graça. Há uns meses atrás era moda dizer mal dos Americanos e marchar em manifestações contra guerras em locais que nem se sabe sequer onde ficam no mapa. Agora é vê-los, os "modistas", com as suas calças, os seus casacos, as suas t-shirts, todos com motivos camuflados. Já lá dizia o criador que "Moda é tudo o que passa de moda". Pelos vistos o Iraque já pertence à estação anterior.






Citações


Perguntam-me por mail se eu só leio Milan Kundera, tal a quantidade de vezes que cito este autor. Claro que conheço muitos outros autores e muitas outras obras. Se ultimamente cito este autor, que parece falar-nos directamente ao interior e cuja escrita é tão "exposta" denunciando os próprios "truques", prende-se com o facto de me agradar ler bibliografias completas de uma vez. Quando me agrada a leitura de certo escritor, o próximo livro que leio é do mesmo e assim sucessivamente até opinião em contrário. Portanto agora é Kundera. Quem sabe quando será Nabokov, Joyce, ou outros. Porque como dizia o outro "a leitura é um jogo", e eu ainda me encontro no primeiro quarto de hora da partida

Por outro lado, não possuindo eu a impressionante capacidade literária do comentador Marcelo, ler uma bibliografia completa pode levar semanas ou até meses, e nunca apenas algumas horas.






Perdeu o pio, ficam as doces recordações


A maneira como o pintainho decidiu dar por terminada a sua presença na blogosfera, isso sim, foi genial.






Os agradecimentos da praxe


Pela inclusão nos links, pelas palavras amigas, pelos comentários, pela discordância, os meus agradecimentos para: geopolitica; um dia na vida de...; Ave-do-arremedo; Substrato; Homem a Dias; The Amazing Trout Blog; Outro Lado da Lua; o quarto do pulha; abatanado.

Ide meus amigos leitores, ide visitar os pássaros.








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