Elliott Smith
Strung Out Again



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sábado, janeiro 29, 2005


Sobre música e ideologias


É impossível ser-se de esquerda.
O máximo que se pode alcançar é ter-se a intenção de.

Qualquer dúvida, é favor consultar The Magnetic Fields, guichet 25, senha azul.

I wish I had an evil twin
running ’round doing people in
I wish I had a very bad
and evil twin to do my will
to call and conquer, cut and kill
just like I would
if I weren’t good
and if I knew where to begin

down and down we go
how low no one would know
sometimes the good life wears thin
I wish I had an evil twin

my evil twin would lie and steal
and he would stink of sex appeal
all men would writhe
beneath his scythe
he’d send the pretty ones to me
and they would think that I was he
I’d hurt them and I’d go scot free

I’d get no blame and feel no shame
’cause evil’s not my cup of tea

down and down we go
how low one would not need to know
all my life there should have been
an evil twin





sexta-feira, janeiro 28, 2005


À Sexta Damos Música™


Nova música na coluna da direita. Lá subimos a colina e entrámos na casa. Aos ouvidos chegaram sons vindos da cave, lamentos. Na cave não estava ninguém. Porém, ecoava, no ar, a voz de Elliott Smith e do seu Strung Out Again, e toda a casa cheirava a dor. Invadidos por um imenso sofrimento interior fugimos dali, descemos a colina aos tropeções, o mais rápido que as pernas nos permitiram. Uma grande sombra passou por nós. Olhámos o céu e vimos um grande elefante azul com pequenas asas de gafanhoto que, após sorrir de olhos muito fechados, se escondeu por detrás de uma nuvem repleta de interferências digitais. A relva mudava de cor, alternando entre todos os tons possíveis de imaginar.





quinta-feira, janeiro 27, 2005


Nunca mais!








É só para avisar...




...que isto(*) é mesmo muito bom!

(*) Funeral, The Arcade Fire.






De regresso ao campeonato blogosférico


Quem calará primeiro? R. Ou R.?
Quem falará primeiro? F. Ou F.?





quarta-feira, janeiro 26, 2005


Benfica-Sporting


Trocava a vitória do meu clube pela oportunidade de, voltando atrás no tempo, assistir ao jogo, ao vivo na Luz.





terça-feira, janeiro 25, 2005


Riso, falso




Unlike helpless kittens and puppies, hyena cubs are well-coordinated at birth. Their eyes are open, and their canines are erupted. Young hyenas are extremely aggressive, and twins begin to fight immediately after birth. Fights between littermates are very important because they help establish which individual will be higher-ranking. The higher-ranking cub gets to nurse closer to its mother's warm belly and will probably remain dominant to its sibling for the rest of its life.





segunda-feira, janeiro 24, 2005


Comprimido para o enjoo


Em certas cabeças, a democracia não entra nem à martelada.






Todo o tempo do mundo, têm todo o tempo do mundo



Todo o tempo do mundo...

Consultemos o dicionário: Tempo, duração limitada, por oposição à ideia de eternidade.

Tal definição só faz sentido para os queixosos do tempo. Os que afirmam não o ter, ao tempo. Os ocupados, os da correria, da azáfama. Existem no entanto outros que não possuem limites, tendo assim todo o tempo do mundo. E ter todo o tempo do mundo, o que será senão não ter nada para fazer? E haverá quem não tenha nada para fazer? Claro que há. São os propagandistas do objectivo mutante. Para estes, o objectivo máximo a alcançar sofre de uma rara mutação genética que, conforme um conjunto de factores tais como o ambiente em redor, a direcção do vento, ou a pressão atmosférica, assume variadas formas exteriores. O curioso nestes organismos, é que possuem uma forma inteligente de mudar de forma sem que nos apercebamos de tal mudança e sem nunca revelar a sua verdadeira estrutura interna – só visível após demorada observação – essa sim inalterável. Estes organismos, sem limites, ocupam a sua vida na procura do tal objectivo máximo. O que hoje é principal, amanhã é secundário; o que hoje é verdade, amanhã será mentira; o que hoje é bandeira, amanhã será tapete.

Eu tenho praticamente todo o tempo do mundo e aviso-vos que é uma das piores coisas que se podem desejar. A ideia de eternidade passa a ser uma realidade presente a todas as horas, e a ausência de durações limitadas permite-nos a dispersão que afasta a calma necessária para o prazer. O prazer que só os que não têm tempo podem saborear. Também eu altero frequentemente o objectivo a alcançar e, muitas vezes, a prossecução de uma tarefa é abruptamente interrompida e abandonada. Serei eu então um propagandista do objectivo mutante? Não. Algo muito claro me separa desses organismos. A ausência de propaganda. As minhas mutações ocorrem à vista de todos. Nada é feito às escondidas, e mesmo quando o exterior muda, até o primeiro olhar (que é um ceguinho) permite observar que a natureza interior permanece inalterável.

Porém, sofro das mesmas maleitas de todos os que têm tempo a mais. Mudanças repentinas de humor, irritação frequente, depressões, e insónias. Se bem que a insónia não seja de todo má. A ausência de sono mantém-nos acordados, bem despertos. Enquanto os outros dormem, é nos dada uma segunda hipótese, fora de horas, para observar. Permite-nos sair de manhã, para a rua, com um olhar cansado mas mais observador e, por exemplo, apreciar o sorriso das crianças a caminho da escola, mas ao mesmo tempo reparar que todos o apreciam, mesmo os que não têm tempo para o fazer.
Permite-nos ver as pessoas de outra forma, menos apressada, que resulta numa melhor observação e análise, e distinguir – entre todos – quais são os propagandistas do objectivo mutante. Os que fingem estar ocupados, e que também observam, mas para servir um propósito predador, passeando-se furtivamente por detrás da folhagem esperando uma distracção dos ocupados para caçá-los furtivamente. São organismos perigosos em desenvolvimento. E com todo o tempo do mundo para crescer.





domingo, janeiro 23, 2005


Paraíso gustativo




... ou como perder o resto dos leitores.






Os portugueses estão mais sensatos








elas+eles™


Ela, conduzia a sua carrinha numa via rápida deserta, a uma hora que não era para ela habitual. No leitor de cd’s os sons estranhos mas esclarecidos de Hail to the Thief acompanhavam-na no regresso a casa. Nunca ficara a trabalhar até tão tarde e por isso estava fascinada com aquela estrada só para ela; um manto negro de liberdade com indicações espelhadas de caminhos que não ia percorrer. A faixa no leitor mudou. I Will, assim começou por afirmar o vocalista. Ela largou o volante, abriu os braços como um pássaro, e assim seguiu, cantando, durante a longa recta. Nunca percebeu porque o fez.






Isso é o que tu pensas!




Michael Gross






Pensamento do dia


O lado difícil dos blogues é não recorrer à queixa e ao lamento.






Derrubem os muros da Gulbenkian


por Tiago Rodrigues
A Capital

‹‹Daqui a um ano, a Fundação Calouste Gulbenkian vai comemorar 50 anos de existência. Com justiça, será objecto de todas as honras. Durante este meio século, a fundação tornou-se num dos poucos motivos que os portugueses têm para acordar com um sorriso e com a esperança de um país melhor.
Há poucos dias, assisti a uma entrevista conduzida por Rita Ferro Rodrigues, na SIC Notícias. A entrevistada era Maria Manuel Mota, cientista portuguesa responsável por uma investigação sobre a doença da malária que foi distinguida a nível europeu. A Capital, justamente, entregou-lhe o Prémio Revelação de 2004. Quando Rita Ferro Rodrigues lhe perguntou porque abandonara os EUA e regressara a Portugal, Maria Mota respondeu que só veio porque lhe foram oferecidas condições de trabalho. Achei estranho, mas depois percebi. A investigadora voltou porque o convite era endereçado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência. Pois é. Maria não voltou a um Portugal qualquer. Voltou para a Gulbenkian, um Portugal que correu bem.
Este exemplo é quase nada, quando comparado com o número de pessoas e estruturas que têm beneficiado do trabalho da Gulbenkian. Tanto na ciência, como na cultura e na saúde, a fundação tem superado o Estado. Ao fazê-lo tem tocado de forma transversal a sociedade portuguesa. Quase todos os portugueses conhecem pessoalmente alguém que foi ajudado pela fundação. No meu caso, recordo com particular emoção o meu tio Vítor, irmão do meu pai, inteligentíssimo, cego, que nunca conheci e que foi bolseiro da Gulbenkian.
Além disso, os serviços da fundação são de uma competência e eficácia notáveis. Basta passar pela avenida de Berna para ver como se trabalha a sério. Dá-nos esperança. Por isso defendo que se derrubem os muros que rodeiam a fundação. São muros baixos, é certo, mas destruí-los à picareta devia ser um desígnio nacional. Podia ser que a competência, a lucidez e a nobreza que estão dentro desses muros se derramassem por Lisboa, depois pelos arredores, depois pelo país. Como uma gigantesca epidemia de esperança. Seria uma bela forma da fundação chegar aos 50 anos. Infectando o país.››








sábado, janeiro 22, 2005


Forma de os escrever








Eu hoje queria acordar assim







sexta-feira, janeiro 21, 2005


Ma-i-a-ue


Continuamos à espera dos programas de governo, que já correm o risco de se transformar em librettos. E, sim, eu sei que já existe um disponível para consulta. Mas esse é como o êxito de Verão dos o-zone: entra no ouvido à primeira, mas ninguém entende a letra.






À Sexta Damos Música™


Nova música na coluna da direita. Após a claridade de Keane em Somewhere Only We Know, é chegado o momento de subir a colina e ver se lá mora alguém.





quinta-feira, janeiro 20, 2005


Sobre personagens


Agradam-me as mulheres dos anúncios sobre perfumes. Desagradam-me as que as tentam imitar.






Martunis


Acho mal toda esta paixão pelo menino que vestia a camisola da selecção. Os portugueses andam há muito mais tempo à deriva e ainda ninguém se comoveu.





quarta-feira, janeiro 19, 2005


À Quarta Agradecemos™


Ao Nuno Costa Santos: Porque os seus textos regressam à blogosfera (mania das interrupções!); porque, na imprensa, está a juntar-se ao grupo – muito curto – dos cronistas portugueses que merecem a leitura sem interrupções, saltos, virar de página, ou leituras diagonais; pelas palavras amigas.

Ao Pula Pulga: Porque nos mostra que existe Mais Mundo Lá Fora e, diariamente, analisa o mundo cá dentro.






Sim, eu sei que sou um grande chato


So when you’re asked to fight a war that’s over nothing
It’s best to join the side that’s gonna win
And no one’s sure how all of this got started
But we’re gonna make them goddam certain how its gonna end


Road to Joy (I’m Wide Awake, It’s Morning) - Bright Eyes






Disco do ano?


I’m Wide Awake, It’s Morning - Bright Eyes – recusa-se a sair do leitor.





terça-feira, janeiro 18, 2005


O Anti-gozo


Um bom benfiquista como eu – dos que se arrepia com o hino – mantém o Mourinho entalado na garganta. Secretamente, o bom benfiquista deu razão a Mourinho quando este lançou o ultimato contratual a Vilarinho e, nos anos do Porto – somos os máiores, e eram mesmo – o bom benfiquista odiava Mourinho. As baterias intermináveis das vitórias rufavam aos ouvidos dos vermelhos e, juntando-se ao coro das declarações de José, alimentavam um ódio que não se podia aguentar mudo. Porém, um outro sentimento, no qual apenas pensar já constituía pecado, confundia o benfiquista: o desejo do amor. Era o sonho imaginado; o regresso de José ao clube; as vitórias que novamente trariam a chama eterna; as palavras corrosivas lançadas ao rival do norte proferidas pelo novo líder do balneário que o sol, risonho, vinha beijar. A batalha das emoções contraditórias é dolorosa demais para o ser humano e, quando ocorre, necessita de recorrer a um processo de catarse. A terapia do bom benfiquista foi encontrar uma explicação: o palhaço.

Estava então resolvido o problema. O Mourinho não perde há treze jornadas? É um palhaço. Ganhou a taça UEFA? Isso é prémio para palhaços. Campeão europeu? Palhaço!
Mas o bom benfiquista esteve sempre enganado pois, na verdade, o palhaço era ele. Fomos a encarnação da versão pobre que diverte os outros com as suas piadas para depois chorar na solidão do camarim.
Mourinho nunca foi o palhaço. Mourinho foi, e sempre será, o anti-gozo. E sobre isso, nenhum de nós se atreve a gozar.






Os Desenquadrados


Escolha-se o avião, o comboio, ou o automóvel, e a distância entre Porto e Lisboa pode ser percorrida desde quinze minutos até três horas. Porém, para alguns – poucos, espero – este intervalo aumenta para séculos. São os que insistem em viver no tempo em que nos fazíamos transportar em carruagens ligadas a parelhas.






É favor enviarem-me manifestos anti-violência


Ontem, pela primeira vez, alguém se fez passar por mim, e pelo meu blogue, para deixar anormalidades numa caixa de comentários. Estranha sensação esta de querer partir os dedos a alguém com um taco de basebol.






Ambrósio, apetecia-me algo...


Sobre integração, limites, e Theo van Gogh:

‹‹A key text in this national discussion was by Paul Scheffer, a social critic and an influential thinker in the Labor Party. In NRC Handelsblad, the most important national broadsheet, he wrote, “Segregation in the big cities is growing, and this is very bad news. That is why the soothing talk of diversity and dialogue, of respect and reason, no longer works. Tolerance can survive only within clear limits. Without shared norms about the rule of law, we cannot productively have differences of opinion. . . . The self-declared impotence of our government to guarantee public order is the biggest threat to tolerance.” To be sure, Scheffer had been saying this kind of thing for some time, but when old lefties cry out for law and order you know something has shifted in the political climate; it is now a common perception that the integration of Muslims in Holland has failed.››

Ian Buruma’s Final Cut





segunda-feira, janeiro 17, 2005


Eu hoje acordei assim




A impensar o blogue.






Impensado


Escritos que estão mais de 550 posts ainda não recebo livros de graça.
Será tempo de impensar este blogue?





sábado, janeiro 15, 2005


Ainda sobre a Carbono...


Foi na antiga loja, quando a companhia dos telefones ainda era conhecida como TLP, que ouvi, pela primeira vez, I Can’t Hardly Stand It do mítico Bad music for bad people. Foi uma das poucas paixões para toda a vida. As restantes faixas do álbum parecem-me, hoje, distantes e estranhas. Excepto ela, sempre tão perto, sempre tão jovem.






sexta-feira, janeiro 14, 2005


À Sexta Damos Música™


Todas as sextas, na coluna ali ao lado, uma música por semana.





quinta-feira, janeiro 13, 2005


Digam lá se conheciam...


esta original forma de leitura de blogues?

Se não conseguem ver o filme é porque ainda não foram aqui.






Ai o amor, o amor...


Acabam de chegar aqui via google após esta pesquisa:

blog sandra lux noite setembro 2003






Em tempo de eleições...


Nada melhor que salientar algumas das futuras medidas de Bush. Quem sabe ainda pegam por cá.

The Affordable Health Care for Everyone Act: All persons, regardless of age, sex, race, or income, will, for a nominal fee, be issued a Band-Aid, two aspirins, a Tums, a wallet-size card illustrating the Heimlich Maneuver, a recipe for chicken soup, and a leech.

The Improved Patriot Act: All citizens will be required to carry identification papers stating their name, date of birth, ethnic background, political affiliation, voting history, medical history, credit history, psychiatric evaluation, favorite color, and most embarrassing sexual fantasy, and listing every book and periodical they’ve ever read, as well as the things they might admit to if subjected to any of the ten specific forms of torture currently approved by the U.S. government.

The Gay Rights Act: All persons of the same sex, including family members, will have the right to hug, provided that there be at least two inches of air between their bodies during said hug and provided that both parties continue slapping each other’s back for the duration of the hug.


O programa de governo completo pode ser consultado aqui.






Os pontos de partida (ou sobre a graxa)


Por falar em blogues de serviço público, é de bom tom relembrar, ou dar a conhecer – muito improvável – o serviço frescos na blogosfera, provavelmente o blogue mais visitado e menos referido. É por lá que se dá inicio ao dia blogosférico, e onde se acompanham em tempo real as novidades opinativas. Também eu lá estive antes da pausa para reflexão – e onde não cheguei a conclusão nenhuma – e quem sabe esta graxa me transporte de novo para lá. É que isto da graxa é o melhor medicamento para a saúde de um blogue, embora a maioria o faça como quem compra preservativos na farmácia.






Legenda




O Xupacabras – serviço público em forma de blogue – posta esta fotografia de Alain-Marc. O fotógrafo deu à sua obra o título: La Fille d’Icare. Fosse eu o autor e todos conheceriam esta obra como: Coitus Interrompidus






É a Cultura, Estúpido (3)


Se num determinado momento alguém se lembrou do filme, ou do livro, Alta Fidelidade, não se preocupem, não estão sozinhos.





quarta-feira, janeiro 12, 2005


É a Cultura, Estúpido (2)


Frase sussurrada na mesa atrás da minha após o Nuno Costa Santos ter mencionado o livro de Luiz Pacheco:
- Não é Pacheco, é Peixoto!






É a Cultura, Estúpido (1)


Fui assistir, pela primeira vez, a um É a Cultura, Estúpido. O debate foi animado, o fim de tarde bem passado. Um único reparo a ter em conta: já que se cavaqueou sobre cultura, é inadmissível que não esteja disponível, no local, um dos míticos objectos perdidos da cultura popular portuguesa, a almofadinha para o cu .






E venham eles também









Venham eles








terça-feira, janeiro 11, 2005


Awards rumors


O cartaz para aquilo que vocês sabem já está pronto, embora ainda tenham de esperar um mês e meio para o conhecer. Mefistófeles dança zombando em redor dos suspensos. Este ano não vai ser fácil.





segunda-feira, janeiro 10, 2005


Da sonolência provocada pelos semanários


Comprei o Expresso por causa dela, e de agora em diante espero que alguém transcreva os textos da Carla nos blogues. E já agora os textos dele e do Ferreira Fernandes, que os do Nuno e do Pedro já estão online. Expresso, Visão, Sábado, Focus, Independente, são o maior exemplo para o elevado custo da boçalidade em Portugal. Os jornais diários estão online, os blogues complementam o que não se leu. Aqui, a leitura semanal passa a ser apenas a New Yorker. Eu sei, por lá não se escreve o que se passa aqui, mas verdade seja dita: aqui já não passa nada.






And now...




Aqui, e aqui.






Pensamento do dia


Se eu escrevesse como o Kundera tinha um carro melhor.






Também me gusta mucho


O besugo percorre os labirintos da língua portuguesa para afirmar que este blogue mesmo quando é pueril é bom. Peca por excesso de termos na frase. Basta: é bom ponto. Ou, no caso de não querer alterar a dimensão da proposição, poderá escrever: este blogue é mesmo muito bom. Porque, verdade seja dita, melhor e mais bonito que este não há. Possível será, ainda, usar esta forma: o gajo é completamente pueril, mas o blogue, ai o blogue, esse é mesmo muito bom... E bonito. As reticências são o mais importante na frase.





domingo, janeiro 09, 2005


Da superioridade humana


O meu cão está naquela fase da bexiga a dar o sinal horário. Empoleira-se no parapeito da janela contemplando o desejado descampado multiusos: w.c, parque de jogos de correr atrás de algo, e acção social (recolha das garrafas de plástico vazias). Com as quatro patas novamente no chão dirige-se para mim, pousa o focinho na minha perna, e faz aquele olhar que aprendeu nos filmes do Beethoven. Eu ignoro-o e continuo a carregar nos links do frescos. Desfeitas as esperanças, o meu cão cheira o tapete, dá várias voltas para acamar as folhas e pedras imaginárias do terreno, deita-se, e por fim solta um longo suspiro. Gostava de ter aqui um daqueles tradutores japoneses de cão para homem. Tenho a certeza que o que ele acabou de suspirar foi: - E se fosses à merda, hem?





sábado, janeiro 08, 2005


Joana Cruz (porque dos fedorentos já todos falaram)








Move along


On a second-floor veranda overlooking the courtyard, some boys were chewing sugarcane and acting out roles from Tamil movies. One teen-ager climbed over the parapet and jumped to the ground, a drop of more than a dozen feet. “What are you doing?” the girls yelled. “You’ll break your legs.”

“People lost their lives—what do I care if I break my legs?” the boy shouted back, and he sauntered off, swinging his hips and singing a song from a movie.


Akash Kapur, Tsunami






Deus e a Terra, ou a Terra e Deus


A televisão mostra mais imagens de dor e sofrimento. Números impensáveis de vítimas e desocupados desfilam em rodapé: tragédia + 1000, horror + 20000, impossível + 100000.
A Dona C., proprietária do café que frequento, olha de soslaio a televisão e por alguns segundos vê-se que tenta compreender. Na ausência de justificações e culpados talvez recorra ao escape inabalável da fé, mas até esse está caído por terra. Um maremoto de grandes dimensões destrói Deus, e a perfeita criação humana falha redondamente o seu objectivo máximo: explicar.

Um minuto de silêncio; Três minutos de silêncio; Quatro, Seis, ou Dez, e os primeiros segundos são sempre iguais: Eu; Isto pode acontecer-me; Como posso proteger-me; Posso morrer; Eu. E morrer é a maior contradição à nossa existência. Morrer contraria a mensagem que o nosso código genético nos grita diariamente: Sobrevive. A Terra criou-nos assim, como a todos os outros seres vivos, com o objectivo de viver e procriar durante um período de tempo limitado. Servimos os seus interesses e quando partimos ela continua a girar, e a gerar. Espécie após espécie, família após família, reino após reino. Nesta procura por um equilíbrio, que não terá tempo de ser atingido, acabámos por ser capazes de pensar e, quando a terra acomoda e encaixa as suas placas profundas, a nossa maravilhosa capacidade produz em nós o medo do desaparecimento e do fim. A mesma terra que nos ordena a viver é a que nos colhe.

Criámos Deus. Criámos algo sublime, grandioso e, principalmente, invisível. Não o vemos, mas está lá; Não precisamos de prová-lo, mas senti-lo; Criámos o que não necessita de explicação para justificar o inexplicável. O nosso inexplicável. Porque friamente analisando o que se passou na Ásia, tudo tem explicação. Duas placas que se encostam, uma onda que se forma e que varre vários seres vivos. Centenas de milhares de seres vivos. É o número que nos choca, porque ultrapassa a nossa escala do inexplicável, e abala até a nossa criação.

Dona C. afasta os pensamentos da sua cabeça. À noite ao deitar, talvez reze ao seu Deus, mas sem o questionar. Pedir-lhe-á que olhe pelos que sobreviveram, pelos seus, e por si própria. Não irá culpá-lo, não questionará a sua presença e as suas vontades. Desta forma não se sente só. Dona C. aceita os desígnios de Deus mas, na verdade, está apenas a aceitar os desígnios da Terra. Se a Terra quiser, amanhã Deus vai querer que ela continue a girar.





sexta-feira, janeiro 07, 2005


A onda que nos encolheu a todos


"Geralmente, quando a Terra nos lembra que existe (a nós, ocidentais, os europeus, os ricos), fá-lo de forma a não darmos por isso. Os acidentes naturais que conhecemos por experiência directa são explicados com culpas de nós próprios. Se são cheias foi porque desviámos o curso de rios. Se há seca é porque desarborizámos. Se há chuva a mais é por causa dos nossos aparelhos domésticos que dão o buraco de ozono e desarranjaram isto tudo. Mesmo quando há terramotos queixamo-nos das formas com que construímos as casas. Pela Europa, quando a Terra grita ou estrebucha, auto-acusamo-nos sempre. E como há muito de verdade nisso, acabámos por não nos darmos conta da Terra. E, no entanto, ela existe para lá de nós. Poderosamente."

Ferreira Fernandes







As minhas noites de causar inveja


42362... 42363.
Aquecer café. Adicionar açúcar. Consumir resultado.
42364.
Ver de onde vinham.
42364.
Jogar um deprimente e repetitivo jogo online.
42365.
Olhar apenas.
42365, 42366, 42367.
Bater Palmas.
Esperar.
Olhar apenas.
42367.
Ver mais uma receita confeccionada com o Magic Bullet.
42367.
Entrar em depressão.






Já tenho assento


Parece que o Rui conseguiu fechar as listas.





quinta-feira, janeiro 06, 2005


Primeiro aviso (aos que me visitam)


Escusam de tentar encontrar significado para as mulheres que aqui coloco.






Segundo aviso (a todos os empregados de mesa)




Don't touch my coffee...





quarta-feira, janeiro 05, 2005


Algumas resoluções para 2005


- Manter este blogue desarmónico
- Continuar a minha ode às mulheres portuguesas que não fazem capas de revista
- Insistir estupidamente no desejo de nadar com um tubarão-baleia






Ainda sobre novos heréticos e seus autos-de-fé, ou o caso Dulce Ferreira


Pilriteiro, dás pilritos...
Porque não dás coisa boa?
Cada um dá o que tem,
Conforme a sua pessoa.



(Adenda: Para evitar confusões aviso que esta quadra (um antigo exemplo da sabedoria popular dos nossos avós) não se dirige ao estimado Pedro, mas sim a todos os que estão a linchar a senhora na praça pública. É um sublinhar, ou se preferirem um continuar, do raciocínio do post mencionado.)






Como mudar Portugal?


Assim:
Madragoa Filmes cria passe para acesso ilimitado aos cinemas do grupo





terça-feira, janeiro 04, 2005


Eu hoje acordei assim...




A precisar que alguém me puxe os cordelinhos certos.






A humanidade descartável


Quando um povo dirige toda a sua raiva, continuadamente, a uma antes anónima Dulce Ferreira mostra a todos a pequenez do seu pensar.





segunda-feira, janeiro 03, 2005


Um grito mudo


No conturbado processo eleitoral na Ucrânia o símbolo utilizado pelos media foram as imagens de Yushchenko, o antes e o depois, a tentativa de silenciamento impressa num rosto desfigurado. O próprio Yushchenko, dias depois do escape in extremis, discursou perante o parlamento ucraniano avisando: - “Não me perguntem quem é o próximo. Qualquer um de vocês será o próximo. Quando me perguntam como evitei um destino certo, a resposta é uma dose errada no momento errado e estando os meus anjos acordados. Vocês sabem bem quem é o assassino: O governo”
O envenenamento abriu blocos informativos, ilustrou primeiras páginas de jornais, e correu o mundo. Mais do que a fraude eleitoral, mais do que as manifestações da “revolta laranja”, a intoxicação foi o símbolo da opressão, o veículo da indignação. A revolta e vontade de justiça de um povo só ganha força quando aliada à vontade da comunidade internacional, sendo então necessários os símbolos visuais, transmitidos em milhões de lares, para que a indignação se transforme em pressão. Uma pressão à qual Yanukovych não conseguiu fugir.
O maior símbolo, porém, não percorreu as ondas hertzianas internacionais. Enquanto os media, fora da Ucrânia, denunciavam a falsidade do escrutínio eleitoral, os media ucranianos viam-se obrigados a “assinar” a vitória de Yanukovych por mais de um milhão de votos, sem transmitir ou noticiar as manifestações em Kiev. A Ucrânia mantinha-se surda à realidade. Foi então que no canal UT-1 enquanto era mais uma vez anunciada a eleição de Yanukovych, o intérprete para linguagem gestual traduzia a notícia da seguinte forma: “Os resultados são forjados, não acreditem neles”. Este acto de coragem acendeu o rastilho. Seguiram-se greves dos jornalistas, os canais transmitiam desenhos animados em loop, até que as televisões viram-se obrigadas a ceder e a transmitir e noticiar a verdade para o povo ucraniano. Daqui para a frente, o mundo conhece o resultado. Para a história fica este símbolo que quase passou despercebido. Um intérprete, num pequeno quadrado no canto inferior da imagem, alertando o seu povo para a verdade. Um grito mudo, em pleno século XXI.

(Fonte: o caso do intérprete encontra-se num artigo da edição de 13 de Dezembro da New Yorker intitulado Letter from Kiev escrito por Andrey Slivka)





domingo, janeiro 02, 2005


Avança o calendário, e surge a descoberta








Os bons anos não se pedem, constroem-se


Por vezes não é forçoso recorrer a terapias inconclusivas, acompanhadas de bombásticos cocktails de psicofármacos ansiolíticos; Por vezes não é necessário montar um blogue cheio de cópias do que os jornais da moda anunciam, esperando atenção e admiração do próximo; Por vezes não é necessário procurar nos outros um escape que evite olhar para dentro; Por vezes, para matar os monstros interiores, basta recorrer a duas mãos que planam suavemente sobre um mundo a preto e branco. O meu monstro interior foi derrotado pelo melhor disco do ano, actualmente, o melhor disco cá de casa.








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