Saí de casa pela fresca bem cedinho, cortando através do nevoeiro matinal, saboreando mentalmente a torrada, o galão, e a leitura da imprensa diária que se adivinhava. Estacionado o carro, os passos ainda sonolentos no passeio e, um calor, a aquecer o meu cérebro e os sentidos, provocado pela possibilidade de a Grande Reportagem já se encontrar nas bancas. Ao entrar na papelaria, lançando um olhar furtivo às revistas expostas, encontro-a. O título "150 Um número especial". Já com um sorriso no canto dos lábios decido comprar também o Expresso (sinto-me bem disposto e receptivo) e, com uma ignorância fingida e divertida, pergunto ao vendedor: Já saiu a GR de Setembro?. - Já sim - responde ele. Dirijo-me ao seu encontro (da revista) para lhe pegar, acariciar, guardar com carinho debaixo do braço. Preparo-me para a receber nas mãos. - É a última. Acaba a partir deste mês - Avisa o homem. Um choque tremendo atinge-me o corpo. Por debaixo do título, confirma-se: "A última edição mensal". Enquanto a minha conta é feita, lanço um rápido olhar ao seu interior para ler: "Às vezes, as coisas são assim". Fecho imediatamente a revista, como quem não quer aceitar o que lhe dizem e, não é exagerado dizer, quase me vieram as lágrimas aos olhos.
Percorro o caminho para o café (porquê?), aturdido (como?), perdido (e agora?). Peço a torrada e o galão (preferia passar fome a suportar esta fome), sento-me e, com medo, muito medo, abro a revista na carta do editor. O Francisco lembra-me as memórias, os textos, as imagens, aquilo que perder me causa tanto temor. Informa-me que a GR passará a ser semanal e a acompanhar o JN e o DN. Avisa-me que certas mudanças estão agendadas. Assegura-me que a GR continuará a ser uma revista de Jornalismo. Mas não me consegue tirar o medo. Esse pavor terrível que a mudança destrua algo de maravilhoso e fundamental. Esperarei até Novembro. Desejo firmemente que nesse dia da mudança o Francisco continue a partilhar connosco uma publicação onde o rigor, o conteúdo e a qualidade, não sejam apenas o prazer da leitura, mas sim, algo de tão essencial como respirar. Fica o medo. O receio.
Algo irremediável já aconteceu. Morreu "aquele" dia do mês.
E se alguém lhe pedir para trocar um livro isso é ...
Um(a) amigo(a) pede-lhe que troquem livros. O que pensa dessa pessoa? Amante da cultura e do debate? Forreta? Pense bem:
"O sexo parece ter sido inventado há cerca de 2 mil milhões de anos. Antes disso, as novidades em matéria de organismos só podiam surgir através de mutações ao acaso, através da selecção, letra por letra, das alterações nas instruções genéticas. A evolução deve ter sido aflitivamente lenta.
Com a invenção do sexo, dois organismos quaiquer podiam trocar parágrafos, páginas, livros inteiros do seu código de ADN, produzindo novas variedades, prontas para o crivo da selecção. Os organismos foram encorajados a acharem o sexo interessante. Os que o achavam aborrecido extinguiram-se rapidamente. E isto é verdade não só para os micróbios de então: nós próprios ainda hoje demonstramos uma devoção pelas trocas de segmentos de ADN"
"L'adversaire des Loups en Coupe d'Europe est désormais connu... ce sera le club portugais de BENFICA !!! La Louvière disputera donc sa première rencontre en Coupe d'Europe contre un club habitué des compétitions continentales, qui a même déjà remporté deux Leagues des Champions et a participé à de nombreuses finales européennes ! La RAAL sera donc opposée à un club très prestigieux pour ses grands débuts européens !"
Quem o diz são os simpáticos responsáveis da Royale Association Athlétique Louviéroise. O meu Benfica parece ter o caminho facilitado. Calhou-nos um clube que não percebe muito de bola.
Como a maior parte da sociedade portuguesa também a publicidade lusa anda muito enganada. Por mais que se esforcem os nossos publicitários (esforcam?), não há maneira de acertarem. Diziam-me há dias "tens de concordar que a publicidade portuguesa tem melhorado". Não concordo. Por culpa das agências ou dos clientes, e por melhor que seja a ideia por detrás de um anúncio, sentem-se na obrigação de informar qual o produto que estão a comercializar. Nunca publicitam uma marca, mas sim um produto dessa marca. Gastam-se milhões numa batalha entre miúdos e alienígenas, interrompida mais tarde pela mãe que chama para jantar, apenas para se dizer que certos telemóveis têm jogos. Gasta-se muito para dizer que o supermercado este mês tem preços baixos, que esta bebida é mais preta que a outra, que falar para o estrangeiro é mais barato.
Pegue-se depois nos anúncios da Nike, Playstation e outras. Não falam de ténis, nem de roupa, nem de quanto jogos podemos jogar. Falam de um conceito. O conceito de qual a filosofia agarrada a essa marca. Ambas as empresas não precisam de falar nos seus produtos, basta vender a marca que tudo vem por acréscimo.
Publicidade é sempre um apelo ao consumo e podemos criticar essa chamada que nos fazem. Mas é sempre um prazer quando o fazem bem. Ninguém irá certamente esquecer o campeonato organizado por Zidane naquele navio fortaleza à deriva ou, a viagem alucinante de um bebé desde o ventre da mãe até ao caixão.
Circula neste momento mais uma dessas pérolas nos ecrãs nacionais. É da Nike, que vende bolas, fatos de treino e mochilas. O anúncio? Um divertido jogo de apanhada nas ruas da cidade. A mensagem? Simplesmente, Play.
Aos poucos, lentamente, com atenção cuidado carinho (amor?), que urgência não rima com leitura, os escritores, autores, amigos (vozes) amigas desconhecidas, até então, falam-nos pela primeira vez mais uma e mais uma (venham) todos.
Desta vez foi Luiz Pacheco e os seus Exercícios de estilo Passo a citar:
"Sigo os namorados nas ruas espreito-os nos bancos dos jardins oiço-os falar de longe onde só os risos os gestos mudos se entendem reparo nas suas mãos quando se apertam criam suor juntas repetidas nas bocas como se colam sufocadas unidas nos olhares como se prendem, atiçando-se (Olhos parados a rir noutros olhos, olhos de namorados. Lanço-lhes a mão e agarro-os, etc.). Apanho um olhar de namorados um riso leve no ar e sinto-me mais triste e mais só. Ah namorados não posso com a vossa força, como fico triste e mais pobre junto de vós, ó namorados. Ah namorados, quem (ninguém!) pode com a vossa força?"
Foi enorme o meu espanto ao ver que o contador desta página acabava de assumir números gigantes e uma forma horrível. Qual filho que levanta a voz ao pai, o contador mudava de forma querendo assumir o protagonismo na página que lhe coloca o pão na boca. Fui a sua casa para lhe ensinar boas maneiras e descubro que afinal existem novas roupagens para usar nos contadores. Diverti-me a vestir o meu menino, pentear-lhe o cabelo e compôr-lhe o laço. Vale a pena visitar a sua morada e quem sabe adoptar um novo rebento.
Ora digam lá que este não é a cara do Desejo Casar:
Prometeu-se para esta época o regresso do "Benfica à Benfica". Depois de um infantil desaire em Roma e de alguns jogos na Super(?)Liga que não convenceram ninguém, esse "tal" Benfica regressou hoje aos tempos antigos. Perdeu e ficou pelo caminho no acesso à Liga dos milhões, mas lutou, tentou, atacou, rematou, até ao fim. Esse Benfica lutador e criativo não chegou para ultrapassar a possante "muralha" defensiva dos italianos, mas quando nenhum adepto arreda pé de um estádio, mesmo com a eliminatória perdida, antes do apito final, sabemos que "esse" Benfica voltou. Os adeptos não exigem vitórias e ausência de derrotas e empates, exigem garras, garras de uma águia que na sua incessante e incansável luta preencha os corações dos adeptos de alma, dessa tão falada alma Benfiquista. Se a isto se juntarem golos, então somos felizes.
Já agora que o Porto e a União de Leiria consigam ultrapassar os seus adversários nos jogos desta semana.
Ó Sporting? Vai uma uefazita aqui ca genti?
Leio em vários blogs que os recentes abandonos na blogosfera validam os juízos de Eduardo Prado Coelho (EPC) e Luís Delgado (LD). Permitam-me discordar relativamente a LD. Este pressuposto Opinion Makercriticava aqueles que eram pagos para escrever nos jornais mas que ao mesmo tempo opinavam gratuitamente nos seus blogs. É óbvio que LD não dirige esta critica a blogers como Francisco José Viegas (FJV) que marca assídua presença tanto no Aviz como na imprensa, televisão e estantes das livrarias, onde escreve e reflecte com uma notória e admirável qualidade que alguns apenas podem sonhar ultrapassar. LD decerto entende que é inferior a FJV mostrando a sensatez de no seu artigo dirigir-se não aos blogers, o que poderia causar ricochete, mas aos responsáveis máximos das publicações. Tenta deste modo proteger-se de futuras aquisições de cronistas, que compreende serem superiores, entre os que ainda se restringem ao espaço de um blog, subentendendo que se chamados à imprensa guardarão os melhores textos para o blog pessoal. LD não consegue esconder o medo, embebido no seu artigo, de quem sente não ser único. Para fechar o assunto tomemos como exemplo um dos melhores escritores de posts, Nuno Costa Santos (NCS). NCS não precisa de escolher os seus melhores textos, quem nunca escreve mal escreve por gozo, escreve para todos, escreve sempre bem. LD necessita certamente de escolher os seus textos. Este assunto fica na Origem definitivamente arrumado, pois já despendi demasiado latim sobre alguém cujos escritos me causam tanta sonolência.
Quanto a EPC, embora discorde da sua opinião, muitos são os blogers que, sem consciência de tal facto, acabam por subscrever as suas palavras. EPC é um elitista comprovando-o na sua coluna onde, salvo raríssimas excepções, escreve para o umbigo e para o seu grupo de amigos, admiradores e alunos, ignorando a maioria dos leitores do Público onde certamente se encontram aqueles que se sentem autorizados a escrever e quem sabe autorizados a ler. A opinião de EPC pode ser consultada aqui.
A blogosfera lusa prospera a um ritmo alucinante. Diariamente surgem novos blogs num universo que já ultrapassa alguns milhares. Através dos contadores do Abrupto e do Meu Pipi constatamos que a audiência neste meio digital é tão vasta como diversificada. Nascem muitos mais do que aqueles que morrem. Se ao desaparecerem dois blogs acharmos que a blogosfera começou a morrer, e que "aquele verão" chegou ao fim, estamos a ser tão elitistas como EPC. Na minha modesta análise e compreensão, elitismo é o contrário da razão de ser de um blog.
Receita instantânea para chegar a 10000 visitantes
Aqui na Origem do Amor fala-se muito da Marisa Cruz, Jornada Jardel e Pamela Anderson. Embora nenhuma venha nua e sexo esteja automaticamente fora de questão, gostam de banhar-se na piscina da Origem do Amor, de peito solto (tits) ao sol da tarde, brincando com balões que eu previamente soprei (blow), e soltando afinados gritinhos quando eles rebentam (bang). Embora estas modelos nuas visitem regularmente a minha mansão, aviso as autoridades que não pertenço a nenhum gang.
Alguém andou a ler aqui a origem com a ajuda do tradutor do google. Já há muito tempo que não me ria tanto com um post.
I am seated in an esplanade in a street where nobody passes, where nothing it happens, where nothing hears.
A sparrow for only passed here. But it is as much heat that it did not dare to fly. Saltitava, as patinhas was had springs in its two. As if, when opening the wings, it ran away the shade and ran the risk to melt to the sun.
Detesto the heat! I arrived at the point where I am contented for beating in the face a breeze to me that refreshes me in its thirty and eight degrees.
Cursed variation, rays break the hole of ozone, or whatsoever that it provokes this hell.
Swimming pools públicas(), they suggest. Praia(), they wave.
Which what!? Aturar 350 a thousand others that if rejoice with contaminated water or sand in the cantos of the eyes?
I prefer this esplanade in the way of an unknown street where the pardais saltitam and the dogs if had forgotten to bark.
Todos os conhecemos nas escolas que frequentámos. Sentavam-se na última fila de carteiras da sala, eram craques nas aulas de educação física, cobiçados pelas meninas de hormonas a despertar, respeitados ou temidos pela representação masculina e, experientes conhecedores do gabinete do conselho directivo onde marcavam diariamente o ponto.
Nunca foram amigos dos livros, mas lá iam passando com a preciosa e prestável ajuda das meninas e meninos "carolas" que, a troco de uma espreitadela no teste, ganhavam a distinção de acompanhar o herói no recreio. Eu não fui herói, nem carolas, muito menos engraxador mas, por razões esquecidas na memória, pertencia ao grupo de amigos chegados do Mário. O Márinho, nome pelo qual era fogosamente conhecido, era um rapaz com estilo, um dos escassos heróis da escola, o goleador que todos queriam ter na equipa, aquele por quem os corações femininos suspiravam. Eu era um rapaz com estilo porque andava com o Márinho, o que me garantia a protecção de ser amigo de um herói, a posição de defesa na equipa que alinhava mesmo sendo eu uma nulidade futebolística, e o coração daquelas que esperavam a vez de ser as suas musas. A única contrapartida deste pacto com o diabo eram os avisos dos professores lançados aos meus pais dizendo que "O Miguel é muito inteligente e se ele se aplicasse mais os resultados eram bem melhores. Porque capacidades tem ele, o problema são as companhias." Avancei para o secundário, o Márinho ficou para trás, não mais me lembrei dele.
No outro dia passei de carro pelo Márinho. Reconheci-o com algum espanto pois tudo nele mudou drasticamente. O cabelo bem penteado com gel deu lugar a um sujo e maltratado, os hipnotizantes olhos azuis quase não se notam no meio da barba por fazer e do rosto demasiado gasto para a ainda jovem idade, o corpo atlético coberto de roupas da moda deu lugar a um descuidado tapado por roupas gastas. Aquele que sentado na última carteira atirava piropos à professora mais nova de formas afrodisíacas, deu lugar àquele sentado no degrau da tasca, mini na mão, olhar colocado nos carros que passam, perdido num lugar remoto esperando algo que não voltará jamais.
O Mário do presente matou o Márinho da escola, teimando não o enterrar, tentando perceber o que correu mal.
Três anos lectivos. É curta, a fama de um herói.
O Aviz falava da má qualidade do futebol da I Liga Nacional, que de super não tem nada, movendo-se a gaz, e recordou-me dois jogos de Sábado. Nas terras de sua majestade o Tottenham de Postiga defrontou o Leeds num jogo tão emotivo como disputado, e eu que alternava a atenção entre o televisor e um jornal, acabei por ficar de olhos presos ao ecrã. Mais tarde voltei ao café para ver o meu Benfica enfrentar o Guimarães num jogo tão desmotivante como aborrecido, e eu tive pena de não ter um jornal por perto. A juventude portuguesa afirma frequentemente a vontade de emigrar e procurar melhor educação, trabalho, cultura ou sociedade fora das terras lusas. Qualquer dia emigramos só para conseguir ver um bom jogo de futebol.
Através do correio electronic, essa maravilha do mundo moderno, chega-me um pouco de tudo. Há quem pergunte porque não tomo o comprimido vermelho, como aquele que é muito bom mas acha-se ruim.
O meu fiel companheiro de quatro patas, como bom Labrador que se preze, é simpático, afável, seguro de si, nutrindo pela raça humana um amor profundo. Qualquer visitante da nossa humilde casa arrisca-se a ser lambido até à morte.
Quando jornadeia para recreio entre asfalto e ervas rasteiras, Blink olvida a sua atracção por Homo Sapiens, considerada menor frente à muito necessária actividade de cheirar todos os metros quadrados de terreno à disposição, largando aqui e ali panfletos de identificação sólidos e líquidos. Qualquer transeunte que se atravesse no seu caminho ganha apenas um divertido mas rápido olhar de esguelha. Ontem porém, algo diferente marcou a jornada matinal. O Blink avistou um senhor idoso, de vestes gastas, olhar terno mas cansado, passeando do outro lado da rua com a calma atitude de quem apenas espera o tempo passar.
Esquecendo todos os cheiros e marcações de território correu para o senhor e dali não queria sair. Abanava a cauda num frenesim, língua dependurada em manifesto contentamento e, as orelhas baixas que no seu caso parecem dizer: adoro-te. Com um dos sorrisos mais ternos que já vi, e uma expressão nos olhos que mostrava sabedoria extrema, o idoso curvou-se um pouco e, sem dizer palavra, acariciou com uma suave palmada o lombo do animal. Blink voltou correndo para mim com alegria estampada no rosto, ainda deitando um último olhar de despedida ao seu novo amigo, para de seguida voltar aos seus instintos de marcação.
Um pouco mais à frente olhei para trás. O idoso remexia o lixo de um caixote. Não encontrando nada, tirou a boina, limpou o suor da testa e prosseguiu calmamente o seu caminho para lugar incerto. Muitos veriam nele um coitado, velho, gasto e acabado. O meu cão viu muito mais que isso.
Regressei a casa com a sensação de que a resposta para o sentido da vida encontra-se afinal no instinto de um Retriever e na simplicidade de uma cauda a abanar.
O Guerra e Paz fechou, partiu, acabou. O próprio autor não sabe se volta. Eu quero acreditar que apenas fechou um capítulo de um delicioso livro que se escreve aos poucos. O blog passa a figurar na lista da direita, porque o que por lá foi escrito será sempre válido e, ficará para sempre guardado calmamente à espera de quem passe, como um bom livro que embora na prateleira nunca é esquecido e que de tempos em tempos relembramos com ternura, permitindo que os sentidos voltem a ser acariciados pelas palavras escritas que nunca morrem.
O "jogo das cadeiras" no banco dos clubes está ao rubro. Mesmo a braços com a crise económica, que obriga à contenção de custos, multiplicam-se as reuniões entre dirigentes e agentes tendo em vista potenciais aquisições. Contactado pela Origem, o treinador do Lanterna Encarnada Carlos Carvalhas, desabafou sobre as prematuras saídas do plantel na época decorrida que abalaram o 1-1-8 que o treinador teima em utilizar mesmo não marcando qualquer golo. "É na frente atacante que pretendo manter o investimento, pois não se marcam golos a jogar à defesa" afirmou, convicto ainda que "qualquer atleta que evidencie comportamentos desviantes da estratégia do clube será sempre penalizado, independentemente das suas qualidades como profissional", referindo-se ao afastamento de jogadores e, conclui, "Não precisamos cá de Jardeis. Se não jogam em equipa então podem começar a procurar clube".
Carlos Carvalhas lembrou ainda que sem contratações de peso dificilmente levará o clube às antigas vitórias nacionais e europeias, num claro aviso aos responsáveis da Avante SAD.
Uma das posições no relvado mais desejadas pelo treinador é um extremo-esquerdo de alto nível, estando na mira dos responsáveis do clube a internacional Ana Gomes, que se destacou como média-ofensiva no Timorense e que actualmente alinha no Social Clube de Portugal como lateral-esquerda.
"É um negócio complicado pois não há interesse do SCP em largar a jogadora, mas acredito que unindo esforços a sua aquisição é possível" afirmou Carvalhas que, ainda questionado sobre a adaptação da atleta à posição de extrema-esquerda, assegurou "É uma tecnicista de grande qualidade com muitas características por explorar, em suma, um diamante bruto".
Alguém alegando responder pelo nome de Mike Larry envia-me um mail urgente, pedindo-me que abra uma conta bancária, para onde possam ser transferidos em segurança os dinheiros de Charles Taylor.
Ele há com cada um!
A TVI lembra-se agora de ser solidária para com a ACAPO e os invisuais portugueses. Fora de questão está de certeza a sua nova telenovela com Sofia Alves, que transformaria uma campanha de solidariedade numa promoção televisiva.
Está, não está?
Antes que se multipliquem nos blogues as opiniões sobre os responsáveis a acusar convém parar e, ler o unificador editorial de Manuel Carvalho no Público.
No meio da ignorância e dos defuntos impossível e inimaginável explode uma nova bomba, exibindo a queda de um dos derradeiros limites do insuportável, o absurdo. Nunca presenciámos insultos a um médico que acaba de salvar uma vida, nem a um bombeiro sendo violentado pelo proprietário da casa onde arde o fogo que tenta apagar. Poderá não ser absurdo atacar quem combate o mal, absurdo é atingir quem apenas procura o bem. O limite, a paz, o bem, foram atingidos. Desligo a televisão. Perdido, procuro onde me possa agarrar. Os limites caíram um por um e ameaçam arrastar consigo para o abismo a esperança, derradeiro limite ainda de pé mas com visíveis fissuras na sua estrutura. Para que não caia irremediavelmente é necessário que cada um de nós mantenha uma mão encostada às suas paredes e a outra no ombro do que está ao nosso lado.
Nos tempos que correm, em que jazem num invisível sepulcro os remotos impossível e inimaginável, a humanidade cessa aos poucos impressionar-se. A televisão das sensações agita-nos com imagens de mais um abjecto atentado em Israel, com uma idosa chorando perante o fogo, com as estúpidas batalhas que diariamente devastam famílias nas estradas portuguesas. Sentadas nos cafés as pessoas ignoram as imagens dando primazia ao debate sobre a bela finta de Cristiano, ou à altercação sobre as qualidades anatómicas da Marisa Cruz.
Impossível e inimaginável será criticar essas frágeis criaturas que apenas procuram um pouco de paz, longe da paz perdida para sempre no interior de um ecrã. Sociólogos chama-lhe habituação ao terror, acreditando que os limites para o que nos espanta estão colocados numa cada vez mais alta fasquia. Mas já nada nos irá espantar ou surpreender, pois infelizmente as televisões abusaram do terror e sem o perceberem causaram a renuncia de uma população que prefere viver em ignorância para não enfrentar o medo do terror que espreita a cada esquina.
Destruído o conceito de impossível restava-me o de inimaginável. Uma bomba pode explodir e ceifar dezenas de vidas, um tremor de terra pode deitar ao chão pesadas estruturas de ferro como se papel fossem, um incêndio pode no seu inferno dantesco reclamar o trabalho de uma vida. Tudo isto é possível de imaginar. Inimaginável é quando dois possantes aviões são transformados em cobardes armas de destruição lançadas a milhares de inocentes. Inimaginável foi o cobarde "choque e espanto" lançado na calma noite de bagdad, acabando por atingir milhares de inocentes. Inimaginável é assistirmos a tudo em directo e constatar que afinal a imaginação de uma mente cruel não compreende limites.
Ao longo dos anos a televisão testou aos poucos o meu conceito de impossível através de imagens de destruição, violência e imprevisibilidade, causadas pela raça humana ou pela própria natureza do planeta que esta habita. Nos tempos de infância decerto observei fome, morte, homicidas, terroristas, terramotos e incêndios, mas as memórias que imprimiam no meu cérebro provinham das simples aventuras da Heidi, do pequeno Cid, ou do Tom sawyer. Tudo nas ondas hertzianas pertencia a esses mundos de fantasia até que, mais tarde, dois singulares momentos abriram-me os olhos para uma diferente realidade.
O primeiro foi a queda do muro, não pelo que significava, mas pelo sorriso que o meu pai dirigiu à minha mãe enquanto assistíamos juntos a morte de algo que eu não entendia ainda. O terno sorriso assegurava-me que era algo bom, e por essa altura a televisão ainda me confortava.
O segundo momento foi o incêncio do chiado, não pelas aterradoras imagens laranja, mas pelo sorriso que em tempos dirigia à minha avó enquanto, de kalkitos novos na mão, percorríamos aquelas ruas, onde naquelas montras as renas do pai natal abanavam a cabeça e uma singular banda composta por crocodilos animava a montra de um grande armazém. Essa rua, as suas montras e o meu sorriso desapareciam em directo, e eu só podia assistir sem dizer palavra ao triste enterro das minhas memórias.
A partir desse dia descobri que a realidade das imagens da televisão era bem mais cruel do que a fantasia dos desenhos. Descobri o efeito do terror transmitido em directo. Descobri que o impossível não existe, apenas se encontra adiado.
Dentro de 15 minutos faço-me à estrada. Uma partida um pouco adiada por um ameaço de paragem digestiva que ontem me assolou o corpo, provocando suores frios, cabeça às voltas e, uma visita às urgências do Amadora. Esperando num branco e asséptico corredor, rodeado de quem perdeu os sentidos, fracturou algo, ou simplesmente não consegue respirar, lembrei-me de NCS quando dizia há dias em que nos esquecemos que vamos morrer. Isso não me inquieta. O que me assusta é que há dias em nos esquecemos que podemos vir a sofrer. Porque quando morremos levamos o medo connosco. Até esse dia, resta-nos o susto.
Este blog volta na terça. Até lá é tempo de ler, visitar a família ou, simplesmente olhar o horizonte.
Aragens frescas atingem o país. Depois da moral queimada, transformada em cinzas, é altura de levantar a cabeça e seguir em frente empurrados pela doce brisa que sopra. Antes de ir, deixo-vos no meu próximo post a recuperação de uma antiga campanha da apple. É dedicado a todos os que acham que já é altura de mudar. Chamem-lhe lamechas, eu chamo-lhe factos.
Até terça.
A digníssima esposa, aqui do migalhas, achou por bem defender-se do meu post "Estamos quase no Natal". Sendo a Origem um blog democrata, aqui vai o texto na íntegra.
‹‹Gosto do Natal, e depois?
Eu sei que tendo a exagerar, mas a quadra é tão fugaz que tenho necessidade de a viver em pleno, no maior período de tempo que conseguir forjar. O Natal não é só o reunir da família, a comemoração do nascimento do nosso calendário, o bacalhau, o polvo frito, as prendas. O Natal são os instantes: São as ruas frias que subimos e descemos guiados por luzes cintilantes; é o cacau quante que bebemos enquanto ouvimos as histórias do Rudolf e do menino que viu a mãe beijar um homem de vermelho; é o formigueiro provocado pela ansiedade de chegar a casa e sentar nochão da sala para trocar os presentes, depois de ter persuadido a não aguardar pela manhã; é descobrir que puzzle irei receber e que irei, religiosamente, resolver a partir de 1 de Janeiro; é olhar para a árvore e, à medida que o meu olhar percorre os anjos ingleses e a banda austríaca, sentir um arrepio quando repouso os olhos no cão que se encontra deitado aos pés da árvore com o nariz a cintilar devido ao pó dourado das bolas que esteve a cheirar.
Realmente não sei por que razão gostarei tanto do Natal. Só lamento que o meu marido me convença sempre a desmanchar a árvore em Fevereiro!››
Summer journeys
To Niag'ra
And to other places
Aggravate all our cares.
We'll save our fares.
I've a cozy little flat
In what is known as old Manhattan.
We'll settle down
Right here in town.
We'll have Manhattan,
The Bronx and Staten
Island too.
It's lovely going through
The zoo.
It's very fancy
On old Delancey
Street, you know.
The subway charms us so
When balmy breezes blow
To and fro.
And tell me what street
Compares with Mott Street
In July?
Sweet pushcarts gently gliding by.
The great big city's a wondrous toy
Just made for a girl and boy.
We'll turn Manhattan
Into an isle of joy.
We'll go to Greenwich,
Where modern men itch
To be free;
And Bowling Green you'll see
With me.
We'll bathe at Brighton
The fish you'll frighten
When you're in.
Your bathing suit so thin
Will make the shellfish grin
Fin to fin.
I'd like to take a
Sail on Jamaica
Bay with you.
And fair Canarsie's lake
We'll view.
The city's bustle cannot destroy
The dreams of a girl and boy.
We'll turn Manhattan
Into an isle of joy.
We'll go to Yonkers
Where true love conquers
In the wilds.
And starve together, dear,
In Childs'.
We'll go to Coney
And eat baloney
On a roll.
In Central Park we'll stroll,
Where our first kiss we stole,
Soul to soul.
Our future babies
We'll take to "Abie's
Irish Rose."
I hope they'll live to see
It close.
The city's clamor can never spoil
The dreams of a boy and goil.
We'll turn Manhattan
Into an isle of joy.
We'll have Manhattan,
The Bronx and Staten
Island too.
We'll try to cross'
Fifth Avenue.
As black as onyx
We'll find the Bronnix
Park Express.
Our Flatbush flat, I guess,
Will be a great success,
More or less.
A short vacation
On Inspiration Point
We'll spend,
And in the station house we'll end,
But Civic Virtue cannot destroy
The dreams of a girl and boy.
We'll turn Manhattan
Into an isle of joy!
‹‹Like Ben Franklin, Thomas Alva Edison was both a scientist and an inventor. Born in 1847, Edison would see tremendous change take place in his lifetime. He was also to be responsible for making many of those changes occur. When Edison was born, society still thought of electricity as a novelty, a fad. By the time he died, entire cities were lit by electricity. Much of the credit for that progress goes to Edison. In his lifetime, Edison patented 1,093 inventions, earning him the nickname "The Wizard of Menlo Park." The most famous of his inventions was an incandescent light bulb. Besides the light bulb, Edison developed the phonograph and the "kinetoscope," a small box for viewing moving films. He also improved upon the original design of the stock ticker, the telegraph, and Alexander Graham Bell's telephone. He believed in hard work, sometimes working twenty hours a day. Edison was quoted as saying, "Genius is one percent inspiration and 99 percent perspiration." In tribute to this important American, electric lights in the United States were dimmed for one minute on October 21, 1931, a few days after his death.››
Que o Padre Amaro considere ser a paixão a origem do amor ainda vai que não vai, embora outros como o meu petit orgão genital proclamem seguramente teorias bem mais radicais, agora que me chame gárgula isso é que não. Nunca serei qualquer tipo de estátua ou estrutura de pedra, sendo a minha função sobrevoar rasante e bombardear tais edificações com avançadíssimos projécteis pós-digestivos.
Mesmo assim, um grande bem haja e um abraço para o digníssimo eclesiástico e o meu desejo de grande aventurança.
Estamos aqui em directo dos aviários da Origem do Amor, onde a Senhora Eslovena acaba de perder tudo neste dia tão trágico.
Repórter: A senhora perdeu tudo?
Eslovena: Ai meu deus, a minha vida, que eu fazer agora?!
Repórter: Mas não se salvou nada?
Eslovena: Nã, abrirem a porta do aviário e a passarada ir toda embora! Ai minha santinha das dores, a gente agora nã ter nada ...
Repórter: É a tragédia espelhada no rosto de quem perde o trabalho de uma vida.
Os ingleses Andy Elson e Colin Prescot preparam-se para a segunda tentativa de bater o recorde de altitude num balão, tentando atingir a marca dos 40 quilómetros, o que lhes permitirá transpor a atmosfera terrestre e observar a curvatura da terra. Imaginando que esta proeza tinha como data a época queirosiana, hoje ler-se-ia na Gazeta Ilustrada o seguinte:
‹‹O distinto e brilhante sportsman, o Sr. Andy Elson, e o nosso amigo e opulente proprietário Colin Prescot, partiram ontem a visitar o espaço. Numerosos amigos foram a bordo do ‹‹Qinetic1›› despedir-se dos aventureiros touristes. Vimos entre outros os Senhores Ministros do Reino e seu Secretário, Lord Pavon, Sir Nicholas Gay, Cristiano Ronaldo, etc, etc. O nosso amigo Colin Prescot fez-nos, no último shake-hands, a promessa de nos mandar algumas cartas com as suas impressões do Sistema Solar, esse delicioso local de onde nos vem o Sol e o calor. É uma boa nova para todos os que prezam a observação e o espírito. Au revoir!››
Multiplicam-se na blogosfera os post sobre o "bicho" que anda por aí a atacar-lhes os computadores e o Windows.
Depois olho para a grande maçã impressa no meu "menino" e sorrio.
Este blog vai parar por tempo indeterminado. Preciso resolver uma grave depressão psicológica e passar pelo supermercado a comprar um elixir para ver se me sai da boca o amargo sabor da derrota.
Isto é, até amanhã.
A Ana Marques naquele programa todo branco de entrevistas ou lá o que é, sai-se com esta: "A Internet ainda está a nascer ... só agora as pessoas começam a ter acesso".
Ó Anocas, ide, ide lá ter com os teus meninos do Bravo Bravíssimo.
Abominam-me os que criticam quem procura viver num condomínio fechado de grande área.
Experimentem passar as noites agradávelmente lendo os blogs e ouvindo tiros vindos da rua, quase diáriamente (ou será noitemente?). Eu gosto muito do John Ford mas só em cinemascope.
No dia em que for a passar na sala e tiver de se agachar, não vá uma desviada travar amizade consigo, talvez consulte os prospectos que acompanham o expresso.
tpc / kalkitos / bicla / roda bota fora / segundo toque / um, dois, três, salva todos / skeletor / ir às osgas / foi ele / aquela máquina / rabia / pendura / vinte e oito / uma aventura / estalinhos / bisnaga / caleidoscópio / Vasco Granja / betamax / spectrum / manic miner / vinte cinco escudos / rajá / caprisone / férias grandes / pedras del rei / barril / 31 de agosto / canal caveira / cristo rei / xabregas / afia / estojo / tpc
Em 2003 as vendas de toques de telemóvel esperam ultrapassar as vendas de cd singles, num mercado que já ronda os 57 milhões de euros (para os menos entendidos, sensivelmente 4 cristiano ronaldos), prevendo atingir a barreira dos 100 milhões de euros até ao final do ano.
Este é portanto um mercado em forte expansão, surgindo novidades tecnológicas e musicais todos os dias.
Espero o dia, em que estando sentado numa esplanada à beira mar, o vizinho da mesa ao lado atenda o telemóvel que berra a voz da Ruth Marlene enquanto o meu, em claro aviso, ameaça: Nunca mais voltas ao cais, nunca, nunca, nunca mais.
O que eu encontrei, há muito esquecido, enquanto arrumava os confins de um armário, levou-me até àqueles adolescentes verões passados à beira mar.
Just down the street from your hotel, baby
I stay at home with my disease
And ain't this position familiar, darling
Well, all monkeys do what they see
Help me stay awake, I'm falling...
Down on Virginia and La Loma
Where I got friends who'll care for me
You got an attitude of everything I ever wanted
I got an attitude of need
Help me stay awake, I'm falling...
Asleep in perfect blue buildings
Beside the green apple sea
Gonna get me a little oblivion
Try to keep myself away from me
It's 4:30 A.M. on a Tuesday
It doesn't get much worse than this
In beds in little rooms in buildings in the middle
of these lives which are completely meaningless
Help me stay awake, I'm falling...
Asleep in perfect blue buildings
Beside the green apple sea
Gonna get me a little oblivion
Try to keep myself away from myself and me
I got bones beneath my skin, and mister...
There's a skeleton in every man's house
Beneath the dust and love and sweat that hangs on everybody
There's a dead man trying to get out
Please help me stay awake, I'm falling...
Asleep in perfect blue buildings
Beside the green apple sea
Gonna get me a little oblivion baby
Try to keep myself away from me
Dentro de pouco mais de duas semanas quando o 1 de Setembro vir a luz do dia que é, estamos, segundo a minha esposa, quase no Natal. Termina assim o período de jejum obrigatório, entre Janeiro e Agosto, em que a data festiva não é mencionada. O programa das festas divide-se da seguinte forma:
Setembro: - Estamos quase no Natal.
Outubro: - Estamos quase no Natal!
- O que me vais dar?
- Já podemos montar a árvore?
Novembro: - Onde estão os cd's de Natal?
- Precisamos de mais luzes na árvore.
- O que me vais dar?
- Estamos quase no Natal!
Dezembro: - Faltam 3 semanas para o Natal!
- O que me vais dar?
- Faltam 2 semanas para o Natal!
- Não, não estou farta de ouvir os cd's.
- Falta 1 semana para o Natal!
- Natal!!!!!!!
- Falta 1 ano para o Natal.
São quatro meses de adoração natalícia e, quem achar que o espírito desta época está a morrer, resumindo-se a consumismo e alguma forçada boa disposição na semana de 25, marque consulta com a minha mais-que-tudo. Ora sendo também eu um amante do Natal, embora em doses mais próximas dos níveis normais de excitação, acabo por adorar carinhosamente toda esta antevisão, podendo mesmo afirmar que, para mim, a melhor parte do Natal são os quatro meses que o antecedem.
Vem isto a propósito da notícia no Público sobre a tradicional abertura da secção natalícia do Harrods a partir do mês corrente. Mas se também partilha um tecto com alguém "natalo-maníaco", escusa de começar já a programar uma viagem a Londres, pois a referida secção dos famosos armazéns é em tudo idêntica a todas as outras, primando pela quantidade, mas faltando-lhe algo de verdadeiramente original e merecedor de decorar o pinheiro e a casa.
Pegue no dinheiro e embarque antes numa jornada até Salzburgo na Áustria. Não me recordo do nome da loja nem da rua onde esta se situa, mas se procurar bem não há que falhar. É pequenina e, no entanto, é um mundo. Um mundo de decorações originais, belíssimas e para todos os gostos, como um conjunto de pequeninos elementos duma banda filarmónica, esculpidos em madeira e pintados à mão, que todos os anos decoram a nossa àrvore. Ao entrarmos nessa loja não estamos quase no Natal. No interior dessa loja, doze meses por ano, é Natal. E o Natal é sempre que um homem quer, ou neste caso, a sua esposa.
Do especial "Só contra todos - I" (não encontrei versão online) sobre Diógenes no Público.
É pena que a tecnologia web não tenha ainda chegado ao céu, para que pudessemos insultar o "cão" e receber ricochetes filosóficos em diogenes@olimpo.com ou, o-cinico.blogspot.com.
A RTP transmitiu um programa com o intuito de angariar fundos a distribuir pelas vítimas dos incêndios que ainda assolam portugal. A minha mulher, com razão, lá ia dizendo Não percebo porque as televisões não fazem uma iniciativa conjunta, enquanto Manuel Freire cantava a Pedra Filosofal e desfilavam no televisor, imagens dos bombeiros no combate às chamas. Aprende-se em cinema e televisão que uma imagem, quando encadeada com a letra de uma música, ganha uma segunda versão em termos de significado. E eu vi soldados da paz com o único sonho de extinguir os constantes incêndios que, ameaçadoramente e sem tréguas, reclamam as suas vidas. O saber por vezes encontra-se num vivo laranja espelhado em dois negros olhos.
Nas duas últimas semanas a leitura dos jornais diários apresenta-nos um constraste só possível nesta season tão silly. Nas primeiras páginas, fotografias de populares que choram, bombeiros tentando conter altas e ameaçadoras muralhas laranjas, soldados procurando o descanso no rijo asfalto da estrada. Nas últimas páginas, dezenas de sorrisos maquilhados e umbigos à mostra vindos dos lados dos templos veraneantes algarvios, onde se sucedem as festas do nosso socialíssimo. Fico sem conseguir decidir qual das partes do jornal a mais absurda. Resta-me o conforto da calma e organizada página das salas de cinema, onde o ar que se respira é fresco, e a realidade alternativa.
Luís Delgado manifesta-se sobre a blogosfera dizendo: Tem um inconveniente para os comentadores «oficiais» e pagos: é que se passam a usar os blogs, deixam de ter interesse e valor. A que título é que os jornais, televisões ou rádios investem em líderes de opinião que opinam gratuitamente? É por isso que os blogs são um extraordinário sucesso popular desde 2001, noutros países, e em Portugal, mas nunca para «opinion makers».
Umas semanas atrás enquanto conduzia pela noite, em Porto Côvo, na estrada que liga à Ilha do Pessegueiro, avistei uma coruja em frente ao carro, pousada na estrada. A coruja olhou-me com os seus negros olhos, ao ouvir o ruído do automóvel, para de seguida olhar na direcção oposta, quase como analisando o ar por onde iria voar, e abrindo as brancas asas, pairou pela estrada fora fugindo do meu campo de visão e também de um provável impacto.
O curioso é que em todas as acções, atrás referidas, a ave manteve sempre um imperturbável manto de calma, nunca se mostrando assustada. Pacheco Pereira observou uma caçadora. A mim o sentimento com que fiquei, foi que tinha partilhado uns segundos da minha existência com um ser mitológico.
JPP já me tinha transcrito a carta no seu Abrupto. Coloco-a aqui sobre forma de post para que possa ficar guardada para a posterioridade.
Chegam notícias aqui à Origem que Joel e Ethan Coen preparam-se para filmar nova película, desta vez baseada na sociedade portuguesa actual. A estreia de O Brother, Olha Ardeu! está agendada para Janeiro de 2004.
No Desejo Casar, LFB critica a tendência de ignorar-se o papel do argumentista, raramente referenciado quando se fala de cinema.
Em respeito a essa classe, o Sala 5 passa a mencionar, além do realizador, o argumentista ao qual se deve o guião dos filmes que neste espaço são apresentados.
A revista Pública dedica 9(!) páginas (sem contar com a capa) às "queixas" de Carlos Pinto Coelho ao mesmo tempo que um pouco por todo o lado se movimentam vozes acusando a cabala de Morais Sarmento ao defunto programa Acontece. Pois meus senhores, acabe-se com o Acontece. E já agora pelo caminho acabe-se também com a Sociedade das Belas Artes, o Big Brother, o Jornal da Noite, os documentários do Odisseia, as Televendas, as palhaçadas do Unas, o tempo, e até a mira técnica. As queixas sobre a nossa televisão já enjoam e o choradinho "não há lugar para as minorias que afinal nem vêem mas acham que deve existir pois faz falta e é cultura e chega de jornal da TVI mas também não faço nada para mudar e não me atrevo a simplesmente desligar a televisão da qual me queixo", já há muito devia ter sido extinto.
Portanto se não vai a bem vai à força. Acaba-se com a televisão. A sociedade passa a aproveitar os serões em alegres dominós na colectividade enquanto, em fundo, corre um fado à desgarrada que se sempre é preferível à "Canção do Coitadinho".
Uma das muitas críticas apontadas ao governo nos últimos dias prende-se com o errado corte nos gastos relativos à prevenção de incêndios que acabará por, terminada esta catástrofe, custar ainda mais dinheiro ao cofres do estado. Infelizmente, esta não é uma situação que cause surpresa. A política do mentecapto de vistas curtas, sucede-se governo após governo em praticamente todas as área, desde a educação à saúde, passando pela economia, cultura e outras, salvo algumas raras excepções no âmbito da ciência e tecnologia.
Tomemos como exemplo a cultura, analisando uma das suas maiores vertentes, i.e. o cinema, um dos alvos preferenciais sempre que é necessário "segurar" as contas públicas. É comum, nos anos piores (ou "menos maus") em termos económicos, reduzir-se a atribuição de subsídios para a produção cinematográfica e televisiva., medida que até "soa bem" ao contribuinte comum, pois quando a bolsa aperta, não faz sentido "enterrar" dinheiro em filmes a negro e, as minorias que se fodam. O que o governo não vê (ou finge-se cego) são as centenas de profissionais, técnicos e artísticos, que são automaticamente largados ao poço dos sem-trabalho e, que por sua vez, alimentam-se de fundo de desemprego, não pagam impostos (não se pode inventar dinheiro), chegando a gastar ao estado despesas em serviços médicos, pois como sabemos, um dos danos colaterais mais comuns do desemprego, ou seja daqueles que se sentem inúteis e prescindíveis, é a depressão psicológica. Feitas as contas, o estado já está a perder dinheiro onde queria poupar e nem sequer falámos no factor investimento/audiência.
Nesse campo, uma das possíveis soluções para que o cinema atinja um público mais vasto e abrangente é, a aposta na criação de um "laboratório de testes" onde novos realizadores, através de primeiras obras, tenham a possibilidade de "experimentar", procurando encontrar uma fórmula para atingir o sucesso na equação crítica/público, traçando novas maneiras de fazer cinema e trocando experiências e know-how entre eles, como já acontece no Reino Unido, Espanha e França. Fala-se, desde há demasiado tempo, de implementar estas medidas que teimam em não sair do papel. Podem dizer-me que já acontece com as curtas metragens, mas aí, encontramos mais um entrave, desta vez num campo tão irracional como o "amiguismo". A moeda tem sempre um reverso e, experimente o "aspirante a cineasta" munir-se de um bom argumento e apresentá-lo à consideração do ICAM sem antes possuir uma licenciatura na área de cinema e, receberá uma admirável carta em que lhe é apontada a falta de experiência no campo da realização cinematográfica.
Portanto, um novo realizador, na perspectiva do estado, será alguém que necessita de possuir ou um diploma ou então obra feita (enorme contradição). Podem dizer-me também que faz sentido que necessitamos de um curso superior nesta área para a podermos desempenhar, mas quando temos uma Escola Superior de Cinema que no curso de 4 anos de realização permite a 1(!) aluno, no último ano da licenciatura, realizar 1(!) curta metragem onde os restantes alunos desempenham apenas funções auxiliares como câmara, fotografia ou assistência, as coisas não batem certo até na atribuição de subsídios aos novos realizadores e às primeiras obras.
Podia citar inúmeros realizadores que se estrearam, sem envergar um diploma ou obra feita, nas suas primeiras obras, bastando-me apontar apenas um: Paul Thomas Anderson (Sidney, Magnolia, Punch-drunk Love).
Anderson, no entanto, habita um país que tem os olhos bem abertos e com a capacidade para avaliar quem poderá tornar-se uma boa aposta a longo prazo. Em Portugal, esta expressão é considerada imprevisível, arriscada e, não apresenta resultados imediatos à primeira vista.
À vista curta dum país que não arde só na floresta, mas que todo ele, dia após dia, vai ardendo aos poucos.
Precisamos ter cuidado e mudar a tempo não vá ele apagar-se de vez.
Os incêndios vão sendo sucessivamente controlados e multiplicam-se agora as opiniões, em jornais televisões e blogs, sobre quais as medidas a tomar no futuro.
Um bom ponto de partida encontra-se no artigo Serviços Florestais e Fundo Financeiro Florestal de José Manuel Fernandes.
A Olá lançou uma nova campanha de verão que consiste em atribuir a 7 novos Magnum's os correspondentes 7 pecados mortais.
Não se admire o prezado leitor se ouvir num café perto de si: "Dê-me aí um pacotinho de inveja", ou até, "São um euro e trinta de vingança, por favor".
A Catarina num post já antigo referia que "Em certas alturas, Pacheco Pereira divaga, olha para o céu, ilustra o seu blog com pinturas, escreve prosa poética sobre incêndios, questiona o contador."
Agora JPP assume a sua paixão pela Country Music. Confesso que não sentia simpatia em especial pelo autor do Abrupto, não que esteja em causa a sua qualidade como político, mas sim a filiação partidária que não corresponde às minhas preferências ideológicas. Aos poucos, na blogosfera, a figura política vai perdendo o destaque em prol da pessoa humana que está por detrás e, penso para mim, como era bom conhecermos as outras figuras de governo e oposição desta maneira, i.e. livres da mensagem e imagem que a escolha profissional tantas vezes os obriga a negar os seus mais íntimos sentimentos.
A blogosfera acaba por ser um dos melhores espelhos da vida real.
A Lua sem resposta, avermelhou de vergonha.
Lentamente esconde-se.
Brilhante, a minha amiga voltou.
- Hey! - grito-lhe eu sorrindo.
JPP diz que és Marte.
Para mim, sozinho à janela serás, só, a minha estrela.
Ontem à noite falei com uma estrela.
Hoje a Lua, invejosa e imponente, tapou-a.
Porque não falas comigo? - perguntou ela majestosa.
Acabei o meu cigarro, e não respondi.
Aluguei Waking Life sem conhecer a sinopse do filme, apenas curioso pelas imagens que vi em algumas revistas que sugeriam uma estética visual fora do comum. O dvd passava sistematicamente despercebido quando me deslocava ao blockbuster (pub), pois o título em português "Acordar para a vida" fazia-me lembrar um telefilme sobre alguém que contrai um cancro e passa a correr contra o tempo para se tornar algo "melhor". Desta vez, ainda desconfiando, resolvi pegar na capa e então li as letrinhas pequeninas que diziam Waking Life. - Ah é este! - pensei eu e, confiante, aluguei o dito, juntamente com Irreversível que já tive oportunidade de comentar num post anterior.
Ao fim dos primeiros 20 minutos as palavras que me surgiam à cabeça eram: umbiguista, egocentrista, amontoado de citações, pasmaceira filosófica. Com esforço, deixei o filme correr e esperar que algo mudasse. Ainda bem que o fiz. Porque o filme começa a fazer sentido mais para a frente e, tudo começa a conjugar-se narrativa e esteticamente. Compreendo que muitos não aceitem o filme. Se acho que as pessoas de mente menos aberta deveriam fazer um esforço em filmes como In the mood for love, dou o desconto nesta obra. Porque tenho chamado a esta obra, várias vezes neste texto, aquilo que ela não é: um filme. Waking Life é isso sim um belíssimo exercício cinematográfico, que requer atenção e ser visto mais que uma vez. Possivelmente, Richard Linklater queria que o resultado fosse um filme, mas despejou demasiada informação para um só visionamento. Esta obra merecia talvez um livro, que pudemos pousar a meio da leitura, recuar, analisar e retomar. É aí a única falha. Um filme pode requerer vários visionamentos para que possamos "descascar" as várias camadas, mas não pode nunca, bombardear o espectador com informação que não consegue acompanhar. Porque a história deve ser acessível a todos à primeira, podendo então esconder-se nela, várias mensagens que se querem passar. O cinema começou por ser um espectáculo de feira tal como as "viscerais" montanhas-russas e carrouseis ,e assim se manteve entre Chaplin, Hitchcock ou, Wong Kar-Way, cada um escolhendo as descidas e os loopings à sua maneira.
Waking life é duma espécie diferente. Mas não deixa também ele de ser belo.
O indígena desta semana publicou uma entrevista com António Melão, mais conhecido tribalmente como o Cameraman Metálico, pessoa que merece todo o meu respeito e que devia ser olhado como um símbolo para muitos.
Para explicar esta simbologia, permitam-me que recue um pouco no tempo e vos fale um pouco do meu percurso pessoal.
Deixei os estudos a meio do décimo segundo ano, numa idade em pensava que a vida se aprendia no surf, nas cervejas com os amigos à tarde, no bairro e, nunca nos livros. A escola era algo onde me impingiam aquilo que eu pensava já saber e seguir estudos universitários seria nessa altura para mim considerado uma perda de tempo. Fui trabalhando ao acaso, pois sabia bem o dinheiro para cigarros e "bejecas" sempre que me apetecia perder-me nesses e noutros ócios. Continuava a achar que sabia tudo.
Por uma paixão antiga, o cinema, deixei-me levar pelo vento até ao ramo audiovisual, e assim continuei conforme a direcção que soprava, a "saltitar" entre funções, sempre bem sucedido. Montei programas de televisão, criei genéricos, remodelei linhas gráficas de canais, realizei videoclips, assisti produtores e realizadores no cinema. Trabalhei para as grandes empresas comerciais e formei projectos independentes. E foi então que aquele sabor amargo, de quem não sabe bem o que quer, atingiu as minhas papilas gustativas. Apercebia-me aos poucos que o palco que tinha montado para a minha auto-fantasia estava afinal despido e vazio. Realizei, então, que nada sabia. Aos poucos fui caindo na realidade, numa realidade que dói. Ainda mantinha a esperança que sabia algo e tentei seguir sozinho agarrado ao que se provaram ser utopias. O último ano foi o ano da aprendizagem e, depois de largos meses desempregado vejo uma luz ao fundo do túnel a partir de Setembro quando começar a dar aulas. Ensinar é reconfortante, mas não é executar. No entanto terei tempo para pensar no que realmente quero, porque aos 27 anos, ainda nem eu o sei e, entre blogs, argumentos e projectos para cinema há outras coisas que também me tentam seduzir baixinho ao ouvido. É tempo de saber ouvir o que realmente interessa, com ouvidos de quem finalmente percebe o pouco que sabe.
E depois há o António Melão. Há três anos em Vilar de Mouros, onde filmava umas bandas, encontrei-o de máquina fotográfica nas mãos. Havia quem comentasse que o António "tinha parado no tempo", ou "o cota não sabe a figura que faz".
Pois deviam ter mais atenção à figura do António, não vão cair no erro de seguir a minha. O António tirou a primeira fotografia em 1975 e a partir daí não parou mais e, afirma-nos hoje, "desejo continuar a fazer o que gosto: fotografar e ouvir música". O António sabe o que quer, eu não.
Lembro que se aproximou de mim e me pediu para olhar através da minha câmara. Depois pediu-me risonho e simpático se me podia tirar uma fotografia, comigo a filmar a banda. Acedi ao seu pedido. Porém hoje, sinto que não devia ter deixado.
Teria sido melhor dizer-lhe "Não vale a pena António, deixe-me antes tirar uma a si".
As linhas brancas impressas no asfalto deslizam suavemente debaixo de mim, enquanto o rádio canta uma música envolvente e refrescante, fazendo esquecer o calor que vem de fora. Luzes azuis piscam mais à frente e abrando a tempo de avistar uma placa vermelha e uma mão gesticulando-me, ordenando-me que encoste.
- Boa noite. Os seus documentos e os da viatura por favor - afirma o agente com uma continência.
Atrapalho-me indeciso entre desligar o carro, baixar a música, apagar o cigarro, procurar a carteira ou retribuir-lhe o selecto gesto. Com os documentos já na mão o representante da autoridade inicia a sua inspecção em redor do meu transporte. Pelo retrovisor vejo-o comunicar algo pelo talkie enquanto se detêm na minha matrícula.
- Procedimentos habituais - penso eu. Como estava enganado.
O polícia junta-se a um colega, mostrando-lhe o meu bilhete de identidade e apontando na minha direcção.
Aproximam-se. - O senhor queira sair da viatura por favor. - dou por mim dentro do carro de polícia a caminho da esquadra, para identificação, onde chegado ao destino, aguardo uma hora sozinho numa sala de paredes brancas, nervoso e confuso. Dizem-me que se preferir tenho o direito de só responder a perguntas na presença de um advogado, mas eu, desconhecendo o meu destino e de consciência limpa, acedo a receber as questões ali mesmo, naquele mesmo momento. É então que pasmado fico a saber que sou confundido com um homicida do qual apenas existem retratos rôbô, feitos a partir de descrições de várias testemunhas. Agora sim quero um advogado.
O Advogado nada conseguiu em julgamento contra as inesperadas provas que surgiam contra mim e que misteriosamente batiam certo e, aos 27 anos vi-me condenado a dez anos de cadeia. Os primeiros dois anos ainda resisti com apelos e revisões, até que esmorecido aceitei o inaceitável.
Procurei ler. Li tudo o que a biblioteca da prisão continha. Esgotado o seu conteúdo, tornei a ler mais uma vez, e outra vez, e ainda outra. Traziam-me literatura do lado de fora também e o meu dia era preenchido com estudo, análise e reflexão. Devido a cinco anos de bom comportamento, o director acedeu a que me entregassem um dvd portátil e várias obras cinematográficas, que via, revia e tornava a ver. Comecei a escrever. Um jornal, ensaios, poemas, romances.
Sai. Trinta e sete anos e, os meus olhos voltavam a ver o exterior. Mas tudo tinha mudado no meu interior. Não me vinguei. Publiquei os livros, realizei filmes, ensinei, debati e, ganhei. O Booker, o Óscar, o Urso, o Leão, a Palma, o Pulitzer, e o Nobel. Tive filhos. Encaminhei-os. Seguiram as pisadas do pai. Grandes feitos por todo o lado espalharam.
Já velho, parei para viajar. Alexandria, Bagdad, Colorado, Salzburg, Bangladesh, Congo e, tantos outros mais.
Provei todos os sabores, inalei todos os cheiros e, continuei beijando apenas uma mulher. Foi a ela que disse - Já vivi - antes do momento em que o meu corpo se tornou inerte e a minha alma deixou de o ser.
O polícia terminou a ronda à volta do carro e, entregando-me os documentos disse:
- Está tudo em ordem, pode seguir.
- Obrigado, senhor agente - ainda suspirei com a voz trémula.
A Origem comemora o seu primeiro mês de existência.
Escrevi mais neste período, do que nos últimos dois anos.
Se isso é bom ou mau, os outros que decidam.
Soube hoje, através de um amigo, que Paulo Galvão já se encontra na blogosfera.
Visto os meus calções, aplico protector na pele, e lá vou eu todo pimpão a banhos ao Solarengo.
A TVI lembrou-se de transmitir um programa de seu título ‹‹Portugal Solidário››, usando a repetida fórmula "Carlos Ribeiro (+) pseudo cançoneteiro (/) palco despido (=) zero, alegando, o objectivo de ajudar (será?) as vítimas dos incêndios que ceifaram vidas, propriedades e, florestas portuguesas.
Eu lia o Público, calmamente no café, utilizando a técnica do "túnel de vento" que consiste em criar uma passagem directa de ar entre os dois canais auditivos, sem que o som, proveniente da televisão, consiga atingir e imprimir no meu cérebro. Porém, todas as técnicas gozam de limites físicos e, não existe ciência que resista a um senhor já entradote (com idade de quem já deveria ter lido os maiores autores mundiais e, tirado devidas conclusões), acompanhado por uma repetitiva e vã melodia, lançado para o ar o surpreendente refrão: Mr. Gay.
O país apaga-se aos poucos, literalmente, e há razão para dizer que ardeu de vez.
Poucas horas atrás, os leões de Alvalade inauguraram a sua nova casa recheando-a de emoções virgens. Confesso aqui que sou benfiquista e, embora o meu alvo preferencial de caricatura clubística seja o fcp, sabe sempre bem atiçar a língua com um lagarto por perto.
Hoje porém, nada há a dizer (de mal), pois também eu senti a emoção, não do Sporting, mas de algo novo a nascer. Impressionou ver a multidão dentro de um estádio igual àqueles que só nos habituamos a ver para lá de Vilar Formoso. Numa altura em que a moral lusitana se arrasta pelo lodo um estádio como aquele, de fazer frente a qualquer outro a nível mundial, entrega-me uma réstia de esperança que estejamos a assistir ao renascer de algo. Porque atrás deste recinto e de outros está um campeonato da Europa, porque este recinto cheira a profissionalismo, porque este recinto será porventura o pontapé inicial para que o futebol português passe a jogar "de trás para a frente" a nível não só de complexos mas também de equipas, dirigentes, arbitragens, ligas e adeptos.
Confesso que ainda acredito e sonho. Sonho que esta vontade de estar entre os melhores alastre para a cultura, política, educação, empresas, empregados, etc e, mesmo sendo vermelho da cabeça aos pés, hoje apeteceu-me não ficar em casa.
Acabo de ver Irreversível de Gaspar Noé e, embora não me tenha dito muito, não é sobre os significados ou qualidade do filme que me pretendo debruçar. Este foi considerado o filme choque do ano, gerando grande polémica à volta das suas cenas de violência, em especial a sequência de violação.
Tanto barulho para quê? O cinema já me mostrou momentos bem mais verdadeiramente violentos do que estes. O problema de Irreversível é não se acreditar no que se está a passar.
Os "tais nove minutos" são a violação a uma personagem que ainda não conhecemos e, embora seja usado o plano único, para nós, a mulher que é violada e o violador não passam de actores. Ao prescindir da narrativa pela ordem correcta chegamos a este ponto do filme sem ter ocorrido uma construção dramática da personagem. De certo me dirão que essa frieza é necessária, mas acredito que chegámos a um ponto em que o cinema não nos pode chocar, sem primeiro nos prender emocionalmente às personagens. E porquê? Porque já pouco nos choca do que é projectado no palco fantasiado do cinema, habituados que estamos a receber transmissões de atrocidades reais e em directo no sofá da sala.
Claro que quando a encenação é pensada para nos abalar é, bem sucedida, como provou o episódio de "Sopranos" em que a psicóloga de Tony era violada e, a que se sucedia o conflito entre vingança e ética profissional. Isso sim chocou-me. Porque parecia real. E por mais absurdo que isto seja, para acreditarmos que é real, tem de ser muito bem ficcionado.
Acabo de criar um novo blog, de seu nome Sala 5.
Uma das minhas maiores paixões é a Sétima Arte. Resolvi dedicar-lhe um blog, mas que fosse livre de análises, pontuações e antevisões, pois nesses campos, existem já variados blogs cumprindo, bem ou mal, essa função. O "sala" não é acerca de cinema, o "sala" é cinema. É um recolher de pequenos momentos de magia que me tocaram ao longo dos anos, sentado nessas cadeiras aconchegantes, recebendo aquela que foi uma das melhores formas de utilizar a luz.
Um dia, pela ordem natural das coisas, serei pai.
Outro dia, essa luz, aprenderá o significado das palavras e das frases.
Nesse dia, dou-lhe a mão e, passearemos aqui.
Aos que publicitaram os bloscares.
Aos que agradeceram os prémios.
Aos que me colocam nos posts e na barra da direita.
Aos que comentam. Aos que me ignoram.
Aos que escrevem.
Obrigado.
Hoje está difícil escrever. A ressaca e a reflexão nunca foram companheiras e, aqui me encontro sofrendo de danos colaterais, provocados pela festa que ontem se seguiu aos bloscares.
Somente duas horas passadas do fim da cerimónia e, já convidados, nomeados e vencedores davam o seu pézinho de dança no fabric em Londres onde reinava a boa disposição. O país estava a arder, mas era no fabric que não havia bombeiros que chegassem para os focos de loucura que acendiam às centenas.
O único a manter-se à parte foi Pacheco Pereira, insistindo permanecer no espaço chill-out, dissertando sobre o seu blog, rodeado de estreantes da blogosfera. Os rapazes do Desejo Casar, permaneceram toda a noite encostados ao balcão, de copo na mão, observando o ambiente, enquanto Charlotte, Ana e Catarina animavam a pista de dança, na companhia de OldMan, que insistiu em praticar a dança do rôbô.
O Lisboa a arder ainda tentou pegar fogo a um sofá, mas o meu pipi evitou o pior com uma eficaz esporradela e, na cabine de som, o Dj de serviço ensinava o Pedro a mexer nos pratos. A Melinha, que procurava desesperadamente alguém com quem dançar, descobriu EPC escondido atrás de uma cortina, sendo este prontamente levado à presença do Posto de Escuta para identificação.
O único momento mais exaltado da noite deu-se entre os Marretas e Nuno Costa Santos quando estes resolveram gozar com a descida de divisão do Santa Clara, contudo, a rápida intervenção do apaziguador Francisco, acalmou os ânimos.
Pastilhas não apareceu.
Já há muito rompera o dia quando todos recolheram ao hotel em Oxford Street. Ainda fiquei na conversa com o pessoal do desBlogueador que me contaram curiosidades várias sobre o nosso mundo, até que a Carla bateu à porta enfurecida e, ordenando que nos calássemos, uma vez que queria dormir. Quando ela se foi rebentámos a rir e, entre mais um whisky e uma cerveja, o convívio continuou até às três da tarde, altura em que finalmente todo o hotel repousou.
Agora, valha-me o Gurosan ...
Acabei agora de ver num programa de televisão a minha cara amiga falando sobre o seu novo livro.
Dizia que depois de ter alertado os portugueses para as regras da etiqueta, resolveu agora debruçar-se sobre as questões de ética e moral. Achei que era uma atitude de louvar, essa sua vontade de educar um povo, que diz-se, sofre de maus costumes.
No entanto, já não me agradou quando explicou que estas duas questões (ética e moral), são necessárias para que possamos aproximar-nos dos "correctos" padrões das classes altas e do chamado jet-set.
Tentei então analisar um padrão típico e concluí que fala, daquelas personalidades que povoam as revistas cor-de-rosa e, onde podemos saber o que vestem, o que comem, onde estiveram, como vivem, que mobílias compram e que carros conduzem. Refere-se portanto, àquele vasto conjunto de indivíduos, dos quais não recordo grandes feitos. Penso que estamos de acordo quanto à definição de jet-set. Amigos do Herman, certo?
Passemos à segunda definição. Ética.
Ora, se a minha querida Paula entrar em alguma livraria para comprar um livro que não o seu, experimente dar uma vista de olhos num volume grande de cor alaranjada, em cuja capa se pode ler: Dicionário da Língua Portuguesa. No seu interior, encontrei uma passagem muito poética, a qual tenho o prazer de lhe dar a conhecer.
éticas.f.1 FILOSOFIA disciplina que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir entre o bem e o mal;
É uma frase bonita não é. Dedico-a a si, às suas classes altas e, ao seu jet-set. Despeço-me com sinceros votos de muito sucesso na sua tentativa de enriqu... perdão, educar as classes baixas deste nosso maravilhoso cantinho lusitano.
The TELEVISION above the bar holds this moment where Stanley won't
move. DONNIE is seriously fucked up now and the CAMERA pushes in
on him. He glances around, up the television, sees Stanley. BEAT.
Thurston and the other folks around chat away, etc;
DONNIE
...I'm sick....I'm sick here now.....
They continue to chat, trying to ignore him now;
DONNIE
I confuse melancholy and depression sometimes....
THURSTON
Mmm.Hmm.
DONNIE
You see?
THURSTON
Why don't you run along now friend,
your dessert is getting cold.
DONNIE
I'm sick.
THURSTON
Stay that way.
DONNIE
I'm sick and I'm in love.
THURSTON
You seem the sort of person who confuses the two.
DONNIE
That's right. That's the first time
you're right. I CONFUSE THE TWO
AND I DON'T CARE.
Donnie looks to Brad, then:
DONNIE
HEY. HEY.
Brad looks. Donnie stands up, backs away from the bar as he talks;
DONNIE
I love you. I love you and I'm sick.
(beat)
I'II talk to you....I'll talk to you
tommorrow. I'm getting corrective oral
surgery tomorrow. For my teeth. For my
teeth and for you....for you so we can speak.
You have braces. Me too. Me too. I'm getting
braces, too. For you. For you, dear Brad.
And I don't have any money. And I don't have
any money now but I'II get it...I will for
you, Brad. I love you, Brad. Brad the Bartender.
(beat, crying now)
You wanna love me back? Love me back and I'll
be good to you. I'II be god damn good for you.
And I won't be mad if you don't know who said what.
I won't punish you if you get the answer wrong.
I can teach and tell you: Samuel Johnson.
THURSTON
Brad, honey, you have a special
secret crush over here I think, don't
take him too lovely -- he might get hurt --
DONNIE
You mind your own bussines.
THURSTON
Gently, son --
DONNIE
Brad, I know you don't love me now --
THURSTON
"It's a dangerous thing to confuse
chidlren with angels..."
DONNIE
-- and you wanna know the common element for
the entire group, like he asks...I'll tell you
the answer: I'll tell you, 'cause I had that
question. I had that same question....Carbon.
In pencil led, it's in the form of graphite
and in coal, it's all mixed up with other
impurities and in the diamond it's in hard form.
(Jimmy impersonation)
"Well...all we were asking was the common
element, Donnie...but thank you for all that
unnecessary knowledge...ahhh, Kids! Full of
useless thoughts, eh?" Thank you. Thank you.
(beat)
And the book says: "We may be through with
the past but the past is not through with us."
(to Thurston)
And NO IT'S NOT DANGEROUS TO DO THAT.
Donnie has backed away, close to the bathroom. He heaves a bit,
cries, turns and runs for the bathroom --
Assim acabam os bloscares 2003.
Foi uma hora preenchida de muitas emoções, surpresas, lágrimas e também, de muitos sorrisos amarelos.
Obrigado pela sua companhia e, até para o ano.
Bem-vindos à primeira edição dos Bloscares, os prémios mais absurdos da blogosfera.
Iniciamos a nossa emissão em directo, aqui do Royal Albert Blog, onde já se juntam milhares de fãs, na esperança de ver uma cara conhecida.
Quando o relógio bater as 22:00, anunciaremos os vencedores das categorias gerais que se dividem em "Prémios atribuídos pela Origem do Amor" e, "Prémios atribuídos por outras entidades". Às 22:05 será divulgado o vencedor do "Prémio do Público" e, para terminar, às 22:10 as tão cobiçadas "Migalha de Bronze", "Migalha de Prata" e "Migalha de Ouro".
Mas para já, fique na nossa companhia enquanto levamos até si as imagens que formos recolhendo directamente da passadeira vermelha.
Através do filme "Finding Forrester"de Gus Van Sant, tomo conhecimento do significado do logotipo da BMW. Esta marca alemã que começou por construir motores para aviões, nunca mais rejeitou esse legado e, o seu símbolo representa uma hélice branca rodando sobre um céu azul. Agora faz mais sentido quando ouvimos dizer que estes carros até voam.
Para mais algumas marcas de carro, recomendo um passeio neste site.
Aviz acaba de se manifestar sobre a blogósfera.
E escreveu numa tão clara forma de desabafo, que quase imaginamos FJV e o leitor sentados, olhando a paisagem à sua frente; Ele falando, o leitor mexendo na terra, cabeça baixa e pequenos sorrisos concordantes aqui e ali, dirigidos às palavras que vão chegando.
Confesso que acordei tarde para os prazeres de um bom livro, de um filme mais exigente, de uma reflexão mais mastigada e menos cuspida. Mas acordei. Tento agora apanhar todo o tempo perdido, não numa corrida para ser notado, mas sim no calmo passeio das manhãs, tardes e, noites que estão para vir.
Concordo que escrevemos para os outros. Mas também escrevemos para nós.
Ao ler-me, aprendo também mais sobre mim mesmo. Sobre os meus receios, vontades, carências e tantas outras emoções que com alguma dificuldade vou tentado exprimir. O blog, em mim, tornou-se um colégio privado em que sou professor, aluno e funcionário. A meu lado, quando escrevo, encontra-se um prontuário, uma gramática, um dicionário. Confesso, às vezes torna-se difícil. Mas quando em raras ocasiões conseguimos materializar em palavras o que sentimos enchemo-nos de esperança. Podemos nem todos saber escrever, mas todos sabemos sentir, e também todos temos a necessidade de partilhar os nossos sentimentos. Isso para mim é "blogar", bem ou mal.
Até EPC já deve ter passado pela reconfortante sensação de descobrir uma fotografia antiga da qual já nem se lembrava, que o fez recuar no tempo, até àquele que já foi.
Espero um dia mais tarde reencontrar o meu blog, recuar àquele maravilhoso verão, rever aquele que já fui.
Aconselho aos meus leitores, alguns dvd's imprescindíveis em qualquer prateleira.
Em troca peço que me aconselhem, alguns livros imprecindíveis em qualquer estante.